RELATO DE CASO: EVOLUÇÃO RÁPIDA PARA INSTABILIDADE HEMODINÂMICA EM PACIENTE COM QUADRO SUGESTIVO DE BRONQUIOLITE – INFECÇÃO POR ADENOVÍRUS.

Introdução: Pacientes com choque indiferenciado são desafiadores na emergência pediátrica.

Descrição do caso:

Lactente de 11 meses, previamente hígido, admitido com desconforto respiratório e vômitos, sem relato de febre. Apresentava choque compensado, sinais de desidratação e desconforto respiratório leve. Evoluiu com estabilidade hemodinâmica após 20 ml/kg de cristaloide isotônico. Cerca de 6 horas após a admissão, apresentava desconforto respiratório moderado e irritabilidade, entretanto hemodinâmico mantinha-se estável, inclusive com eliminação de diurese em grande volume durante a avaliação. Cerca de 1 hora após, realizado ultrassom point of care evidenciando redução da contratilidade miocárdica, sem dilatação dos ventrículos. Em cerca de 10 minutos, evoluiu com choque descompensado. Iniciado antibiótico e adrenalina contínua em dose inotrópica. Apresentou parada cardiorrespiratória, com ritmos chocáveis em algumas checagens. Constatado o óbito cerca de 12 horas após a admissão hospitalar. Hemoculturas negativas. Swab nasal para painel viral identificou adenovírus e bocavirus. Aventada hipótese de miocardite viral fulminante.

Discussão:

As evoluções clínicas desfavoráveis abruptas são mais comuns na pediatria. O diagnóstico etiológico do choque é um desafio. Os serviços de verificação de óbito, indisponíveis na nossa cidade, são importantes nos diagnósticos após a morte. A ausência de febre, hemocultura negativa, resposta ruim à droga inotrópica mesmo em um estágio inicial do choque e isolamento de vírus em swab nasal fortaleceram a hipótese de miocardite. A miocardite fulminante é uma síndrome incomum caracterizada por inflamação miocárdica súbita e grave que geralmente leva a óbito resultado por choque cardiogênico, arritmias ventriculares ou falência de múltiplos órgãos.

Conclusão:

A miocardite viral tem prognóstico reservado e as opões terapêuticas são pouco eficazes em reverter o quadro. Sua etiologia pode ser infecciosa, tóxica ou autoimune, sendo estes casos relacionados algumas vezes às vacinas. A identificação viral auxilia no diagnóstico etiológico o que ganha maior importância com o crescimento do movimento anti-vacinas.