PERFIL AMBULATORIAL DOS VÍRUS RESPIRATÓRIOS NA POPULAÇÃO PEDIÁTRICA EM 2022: UM ANO DE TRANSIÇÃO PARA A NORMALIDADE?

Introdução: As infecções respiratórias virais se destacam na pediatria pelo elevado número de infecções graves, hospitalizações e óbitos, além de desfechos desfavoráveis como sibilância recorrente e asma. Dados sobre hospitalizações e síndrome respiratória aguda grave causadas por vírus estão amplamente disponíveis, porém, não há documentação destes agentes no cenário ambulatorial no Brasil.
Objetivo: Descrever a epidemiologia dos vírus respiratórios identificados em uma população pediátrica ambulatorial de São Paulo durante o ano de 2022.
Método: Estudo de vigilância laboratorial passiva realizado em crianças de 0 a 12 anos entre 01/01/2022 e 31/12/2022. Foram avaliados os resultados de todos os testes (imunofluorescência direta, imunocromatografia e PCR em tempo real) em amostras do trato respiratório coletadas nessa faixa etária em unidades ambulatoriais de um serviço privado de medicina diagnóstica na cidade de São Paulo. Descrevemos os casos positivos para os vírus mais frequentes no período, em relação ao número de exames realizados que incluem a pesquisa do agente.
Resultados: Foram realizados 119.525 testes, com positividade global de 25,5% para pelo menos um patógeno. SARS-CoV-2, VSR, influenza A, parainfluenza, adenovírus, rinovírus/enterovírus, metapneumovírus e coronavírus sazonal foram os vírus mais relevantes. A partir da distribuição mensal dos vírus ao longo do ano, destacamos: três ondas de COVID-19 (janeiro, junho e novembro), surtos extrassazonais de influenza A (janeiro e setembro-outubro/2022), predominando em maiores de 6 anos, circulação bifásica de VSR, de forma sazonal precoce (janeiro-maio) e extrassazonal, em menores de 3 anos (outubro/novembro), circulação intensa e sustentada de adenovírus respiratórios em lactentes e pré-escolares (junho-outubro), rinovírus/enterovírus como agentes mais frequentes em todas as faixas etárias no primeiro semestre.
Conclusão: 2022 se estabelece como ano de transição pós-pandêmica, com retomada da circulação de outros vírus respiratórios na comunidade (especialmente picos extrassazonais) após dois anos de predominância do SARS-CoV-2. Ilustramos a relevância de um boletim epidemiológico para a prática pediátrica.