ENCEFALITE POR ENTEROVÍRUS COM SEQUELAS NEUROLÓGICAS TRATADA COM SUCESSO COM CORTICOTERAPIA

Introdução: Enterovírus representam causa importante de encefalite em crianças. Entretanto, existem dúvidas relativas ao tratamento, sendo a imunoterapia uma possibilidade terapêutica. Descrevemos um caso de encefalite por enterovírus, com graves sequelas neurológicas, tratado com sucesso com corticoterapia.

Descrição do caso: Menina de 3 anos de idade, previamente hígida, com historia de febre, cefaléia occipital e vômitos, que evoluiu com distúrbio do sono, ataxia, disartria e disfagia. Exame inicial de líquor: células 392/mm3, hemácias 29/mm3, neutrófilos 29, linfócitos 63, monócitos 8, proteínas 85mg/dl, glicose 68mg/dl, lactato 21mg/dl. Iniciado ceftriaxona e aciclovir. Encaminhada à UTI por oscilação do nível de consciência, tetraparesia, afasia, paralisia facial e piora da disfagia 24 horas após, necessitando de intubação por 3 dias. Completou 10 dias de ceftriaxone e 14 dias de aciclovir sem melhora neurológica. Realizou TC de crânio sem alterações. Iniciou pulsoterapia com metilprednisolona 2mg/kg/dia por 5 dias, com melhora neurológica evidente e gradual. Recebido resultado positivo de PCR para enterovírus. Posteriormente, foi continuado prednisolona 2 mg/kg por 2 semanas e desmame por 4 semanas. Recebeu alta hospitalar após 45 dias de internação, com recuperação neurológica quase completa.

Discussão: Enterovírus são responsáveis por 1-15 dos casos de encefalites virais, com mortalidade descrita de até 14. Na abordagem inicial de encefalites, sem identificação etiológica, preconiza-se tratamento empírico com aciclovir e cefalosporina de terceira geração para cobertura de herpes simplex e bactérias. Entretanto, mesmo após 14 dias de tratamento, a paciente não apresentou melhora neurológica. Segundo a OMS, o caso pode ser classificado como encefalomielite associado à paralisia aguda flácida. Portanto, há indicação de imunoterapia para reduzir sequelas neurológicas. Neste caso foi optado por corticoterapia com excelente resultado.

Conclusão: A imunoterapia deve ser considerada no tratamento dos casos de encefalite com sequelas neurológicas. O uso da corticoterapia pode ser uma opção de imunoterapia.