DESAFIO DIAGNÓSTICO DE SRAG EM CONTEXTO DE PANDEMIA

Introdução
A síndrome respiratória aguda grave (SRAG), caracterizada por síndrome gripal associada a dispneia e queda de saturação, tornou-se diagnóstico rotineiro em contexto de pandemia pelo coronavírus. Entretanto, diagnósticos diferenciais devem ser avaliados de acordo com especificidades de cada caso.

Descrição do caso
M.I., sexo feminino, 12 anos, admitida em pronto atendimento com quadro gripal inciado há 5 dias, associado a febre, diarreia e vômitos, taquipneia sem esforço e queda de saturação até 88% em ar ambiente (AA). Observado em radiografia de tórax infiltrado intersticial bilateral em bases, ao hemograma linfopenia, PCR baixo. Internada, mantidos sintomáticos e oxigenioterapia. Afastado Covid-19 por RT-PCR e sorologia negativos. Após 8 dias de evolução demandou oxigenioterapia em alto fluxo, com saturação 78% AA, sem piora de padrão respiratório. Neste momento mãe informa que possui diagnóstico de HIV, presente desde a gestação da paciente, com tratamento iniciado após cerca de 5 anos. Realizado teste rápido de HIV positivo e TC tórax, demonstrando padrão em vidro fosco cístico, típico de pneumocistose, sem linfonodomegalias. Iniciado sulfametoxazol + trimetropim e prednisona 20mg por 21 dias e TARV. Evoluiu com melhora clínica de hipoxemia após 15 dias de evolução.

Discussão
Quadro de SRAG sem esforço importante, associado a linfopenia, pode induzir à hipótese diagnóstica de Covid-19, ainda que com RT-PCR negativo, sobretudo em contexto de Pandemia, induzindo a vieses cognitivos. A evolução inesperada do quadro motivou a revisão completa de anamnese, com maior direcionamento à família sobre história familiar de comorbidades, que foi revelada apenas neste momento. Exames complementares auxiliaram para o esclarecimento diagnóstico de SIDA com pneumocistose.

Conclusão
O tratamento inicial de SRAG na urgência independe de sua etiologia, mas esta deve ser investigada, a fim de estabelecer o tratamento necessário.