Introdução: A descriminalização de drogas preocupa quanto a possibilidade de uso precoce ou intoxicações acidentais em crianças. Casos relatados abaixo, atendidos em pronto socorro infantil (PSI) de hospital secundário, ilustram essa preocupação.
Descrição dos casos:
Caso 1: Sexo feminino, antecedente de prematuridade (33 semanas) e baixo peso ao nascer (2190g), entrada no PSI aos 15 dias de vida em estado de mal epiléptico, evoluindo com parada cardiorrespiratória. Na investigação etiológica do quadro epiléptico foi considerada a hipótese de intoxicação exógena, confirmada pela identificação de cocaína na urina. Internada em UTI há 3 meses, mantém-se arresponsiva e dependente de ventilação mecânica.
Caso 2: Sexo feminino, 3 meses de idade, previamente hígida, admitida no PSI em crise epiléptica tônico-clônica generalizada, abordada com 3 doses de diazepan, ataque de fenitoína, cessada durante ataque de fenobarbital. Tia referia crise iniciada 20 minutos após ingestão de mamadeira com leite. Pai percebe que tia utilizou acidentalmente água que continha MDMA (Ecstasy) para uso recreacional do pai na diluição do leite. Toxicológico de urina confirmou presença de MDMA. Permaneceu 4 dias em UTI, evoluiu com taquicardia sinusal, hipertensão e reentrância das crises, melhora com drogas antiepilépticas, retiradas progressivamente. Alta hospitalar aparentemente sem sequelas.
Discussão: Estudos americanos demonstram aumento dos atendimentos de emergência em adultos e crianças possivelmente associados a maior liberação no uso de drogas. O uso recreativo reduz o medo das drogas, acarretando elevação do consumo e, por consequência, aumentando o risco de intoxicação acidental. Em relação às drogas sintéticas, desconhece-se muitos de seus efeitos, principalmente em relação às manipuladas.
Conclusão: O pediatra deve entender a intoxicação exogênica por drogas como algo presente em nosso meio, tanto por ingestão acidental como por outras formas como uso materno e aleitamento. Aconselhamento breve sobre drogas pode ser realizado na consulta pediátrica e/ou obstétrica como uma das medidas preventivas.