ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL HEMORRÁGICO NA EMERGÊNCIA PEDIÁTRICA

INTRODUÇÃO
Acidente vascular cerebral (AVC) em pediatria é raro com incidência, incluindo os AVC isquêmico (AVCI) e hemorrágico (AVCh), de 3-25 por 100.000 crianças/ano em países desenvolvidos ¹ (AHA2019). AVCh representa quase metade dos AVC pediátricos, incidência 1-1.7 por 100.000/ano¹ (AHA2019), com mortalidade entre 10-20% no evento agudo². Causas vasculares (malformações arteriovenosas, cavernosas e aneurismas) correspondem às principais etiologias do AVCh pediátrico. Causas hematológicas, tumores e infecções são menos frequentes³. Sequela neurológica ocorre em 50-75% dos casos². O emergencista pediátrico necessita estar alerta para o reconhecimento e manejo apropriado destes pacientes.

DESCRIÇÃO DO CASO
Paciente masculino, 4 meses, hígido, com vômitos há 1 dia. No pronto socorro (PS) foi medicado e liberado com sintomáticos. Após 24h, apresentou hipotermia, alteração de nível de consciência com crise convulsiva retornando ao PS. Tomografia computadorizada (TC) de crânio evidenciou extenso sangramento em região frontal parietal direita sendo encaminhado para o serviço referência em neurocirurgia. Apresentava fontanela abaulada e sinais de hipertensão intracraniana (anisocoria, hipertensão arterial, bradicardia). Realizada intubação orotraqueal, hidantalização, medidas para hipertensão intracraniana (solução hipertônica 3%) e tratamento de possível discrasia sanguínea (vitamina K, plasma fresco e crioprecipitado). Após estabilização, encaminhado para craniotomia descompressiva. Durante a investigação foram excluídas malformações vasculares e causas hematológicas. No acompanhamento ambulatorial apresenta hemiparesia à esquerda e hidrocefalia.

DISCUSSÃO
AVCh pediátrico é pouco frequente podendo apresentar-se com queixas iniciais inespecíficas mimetizando condições benignas em hospitais de menor complexidade. Este relato destaca a importância da suspeita diagnóstica precoce, estabilização clínica, realização de neuroimagem e eventual tratamento cirúrgico. O tratamento individualizado é direcionado para a causa, pois a etiologia do AVCh pediátrico é heterogênea.

CONCLUSÃO
AVCh é uma condição rara com elevada morbimortalidade em pediatria. A abordagem inicial através do reconhecimento precoce, estabilização clínica, neuroimagem e avaliação multidisciplinar pode maximizar o prognóstico neurológico.