Cresci ouvindo minha mãe dizer que fui um bebê gordo e saudável graças ao aleitamento materno. Cheguei a ter peso e comprimento bem acima da normalidade aos seis meses, mas aos poucos atingi níveis adequados.
Durante a faculdade de Medicina, tive poucas aulas sobre a importância do leite materno. Aprendi a prescrever o aleitamento materno alternado com outros alimentos desde o segundo mês, pois não se utilizava o aleitamento exclusivo até os seis meses. Nas residências de Pediatria e Neonatologia, comecei a reconhecer o papel do leite materno na evolução dos recém-nascidos, particularmente prematuros. Fiquei deslumbrada com os recentes trabalhos sobre o leite das mães de recém-nascidos pré-termo, mais rico em nutrientes do que o de mães de bebês de termo.
Ingressei na pós-graduação determinada a realizar pesquisas sobre o aleitamento materno. Desenvolvi alguns aspectos do tema “Composição e Propriedades do Leite Humano”, em minha dissertação de Mestrado e em minha tese de Doutorado.
Tornei-me mãe de dois filhos em 1982 e 1984 e mantive o aleitamento materno exclusivo por apenas dois meses; introduzi alimentação complementar a partir de então e, com sacrifício, amamentei até o sexto mês.
Outro fator que dificultou a manutenção do aleitamento materno foi a extensão da licença-maternidade, na época de 84 dias! Meu marido levava meus filhos ao hospital durante os plantões e eu os amamentava no carro, ansiosa e com medo de me ausentar da UTI neonatal.
Nos anos 1990, ingressei no Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). A seguir, fui convidada para o mesmo departamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), do qual fui secretária por duas gestões. Exerci ainda a presidência do departamento da SPSP e, na sequência, assumi a assessoria da presidência da SBP. Trabalhei intensamente pela ampliação da licença-maternidade para 180 dias, conseguindo caminhar bastante nesse sentido. Em 2010, entrei como representante da SBP no grupo de trabalho do Ministério da Saúde “Mulher Trabalhadora que Amamenta”. Fizemos várias oficinas para formação de tutores em capitais brasileiras, incentivando a implantação da licença-maternidade ampliada e das salas de apoio à amamentação nas empresas.
Atualmente estou me dedicando à formação de alunos de graduação e residentes, tentando melhorar o ensino do aleitamento materno e os incentivando a lutar pelo aumento dos índices de amamentação. Coordeno a implantação do Banco de Leite Humano no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, que será meu mais importante legado para o ensino dos residentes e otimização da assistência aos recém-nascidos pré-termos, em especial de muito baixo peso.
Dra. Valdenise Martins Laurindo Tuma Calil
Esposa do Ricardo, mãe do Ricardo Luis (36 anos) e Luis Fernando (33 anos) e avó da Luiza (dois anos e meio).
Pediatra do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SPSP.
___
Publicado em 27/08/2018.
Este blog não tem o objetivo de substituir a consulta pediátrica. Somente o médico tem condições de avaliar caso a caso e somente o médico pode orientar o tratamento e a prescrição de medicamentos.
Esta obra foi licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Brasil.