No final da década de 70, quando estava na Faculdade de Medicina, tive poucas oportunidades de ouvir falar em aleitamento materno. Naquela época, na cadeira de Pediatria, estávamos bem empolgados com todos os avanços tecnológicos, ansiosos por conhecer todas as novas fórmulas infantis, como diferenciar cada uma e seu correto preparo.
Tudo parecia em seu lugar até que um dia, estudando na biblioteca, me deparei com um livro. Era a terceira edição de “Alimentação da criança”, de 1979, por Cesar Pernetta, professor e autor de vários livros de Medicina. O livro era interessantíssimo, mas o que mais me chamou a atenção foi a importância que ele dava à amamentação, o que realmente não era tão comum naquela época.
O título do capítulo sobre amamentação era: “Amamentação materna: vantagens” e o do capítulo sobre alimentação artificial: “Aleitamento artificial: desvantagens”. Fiquei intrigada, pois até então somente ouvira falar das vantagens da alimentação artificial, do fácil preparo, das vitaminas que continham e da maior independência que oferecia para as mulheres.
Após esse episódio, comecei a prestar muito mais atenção no assunto, a ler mais sobre amamentação e sobre o leite materno e, principalmente, a desconfiar da propaganda e dos rótulos que enumeravam as “vantagens” das fórmulas infantis.
Como era de se esperar, encontrei um mundo fascinante que mostrava, com dados científicos, as trágicas consequências de não amamentar e de todos os benefícios que o aleitamento materno proporcionava para o bebê, a mãe e a família.
Nos anos seguintes, tive a oportunidade de ouvir o professor Pernetta, também Dias Rego e outros grandes mestres no assunto. Assim, o interesse pela amamentação foi crescendo, se consolidou e definiu minha maneira de atuar na profissão. Aprendi, principalmente, que a luta em favor da amamentação é contínua. Ela se mostra no dia a dia da assistência, no avanço do conhecimento sobre o assunto, no cuidado adequado, no respeito às decisões das mulheres, na vigilância de práticas não éticas e com muita força no trabalho em conjunto.
Para terminar gostaria de reproduzir aqui um trecho de uma poesia de Gabriela Mistral que faz uma conexão muito próxima com o tema da Semana Mundial de Amamentação desse ano:
“Muitas das coisas de que necessitamos podem esperar. A criança não pode. Agora é o momento em que seus ossos estão se formando, seu sangue também o está e seus sentidos estão se desenvolvendo. A ela não podemos responder ‘amanhã’. Seu nome é hoje.”
Dra. Honorina de Almeida (Nina)
Casada com Bruno, mãe de Lucas (28 anos) e Willi (23 anos).
Pediatra do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SPSP.
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Publicado em: 7/08/2018
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