Amamentar é o desejo de quase todas as gestantes e posso dizer que estive incluída neste grupo nas minhas duas gestações.
Apesar de ser pediatra e neonatologista, a tarefa de amamentar não foi fácil. Tive lesões nos mamilos, muita dor e minha filha perdeu bastante peso nos primeiros dias de vida. Acabei conseguindo amamentar por alguns meses apesar de ter retornado aos plantões 30 dias após o parto.
Com o segundo filho foi um pouco mais fácil, mas ainda com algumas dificuldades. No início da década de 80, quando me formei em Medicina e tive meus filhos, os benefícios do aleitamento materno eram conhecidos, mas ainda não havia a valorização e o incentivo presentes na atualidade. A introdução precoce de outros alimentos era a orientação vigente e até então o aleitamento exclusivo nos primeiros seis meses não era ensinado como norma nas principais faculdades de Medicina.
A propaganda e distribuição de substitutos do leite não era regulamentada. Em 1981, a Organização Mundial da Saúde e a Unicef desenvolveram o Código Internacional de Comercialização de Alimentos para Lactentes. Nos anos seguintes, houve a aprovação da Norma Brasileira para Comercialização de Alimentos para Lactentes (NBCAL).
A cada ano fomos presenciando o surgimento de instituições voltadas ao ensino, treinamento, pesquisa, divulgação e defesa da amamentação: IBFAN internacional, criada em 1979; IBFAN Brasil, em 1983; Desenvolvimento dos bancos de leite no Brasil, na década de 80; e Rede Brasileira de Bancos de Leite, em 1998.
Hoje, trabalho em contato com muitas mães e bebês na maternidade. Vejo que a falta de informação ainda é uma das principais causas de falhas na amamentação. Muitas mães acham que suas mamas estarão cheias de leite logo após o parto. Pensam, ainda, que é normal sentir dor durante as mamadas e não sabem que a posição e a pega corretas são fundamentais para o êxito do aleitamento. Os horários e frequência das mamadas não devem ser fixados pela mãe e sim pelo bebê, em livre demanda.
Se essas e outras informações forem compartilhadas com todas as gestantes, com certeza as dificuldades no período pós-parto serão menores. Temos de divulgar os benefícios do leite materno e do aleitamento. É preciso, também, valorizar a formação de profissionais de saúde capazes de realizar um atendimento pré-natal e pós-natal de qualidade, afim de prevenir, detectar e tratar problemas que possam surgir durante a amamentação.
Dra. Mônica Vilela Carceles Fráguas
Esposa do Renério, mãe da Marina (28 anos) e do Gustavo (25 anos).
Pediatra do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SPSP.
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Publicado em 21/08/2018.
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