Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 22/07/2022
Começo pelo que foi divulgado ontem pelos Departamentos de Saúde do Estado de Nova York e do Condado de Rockland: alerta sobre um caso de poliomielite neste condado. As autoridades de saúde estaduais e municipais estão aconselhando médicos e profissionais de saúde a ficarem atentos a casos adicionais.
Como a vacina contra a poliomielite está incluída no calendário padrão de imunização infantil dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) nos EUA, crianças vacinadas são consideradas de menor risco, mas as não vacinadas, as que estão com a vacinação incompleta e gestantes são motivo imenso de preocupação, com a possibilidade de terem sido expostas e devem tomar uma dose de reforço.
No caso em questão de poliomielite, o sequenciamento, que foi confirmado pelo CDC, mostrou que o vírus Sabin tipo 2 da poliomielite reverteu para uma forma mutante ou anormal, sugerindo que pode ter se originado em um local fora dos EUA (onde a vacina oral-OPV é administrada, uma vez que cepas mutantes não podem emergir de vacinas inativadas).
E, em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu que um novo surto de poliomielite no Sudão foi relacionado a uma epidemia provocada pela vacina oral no Chade — uma semana após a agência de saúde da ONU ter declarado o continente africano livre do vírus selvagem. A OMS relatou que duas crianças no Sudão apresentaram poliomielite e sofreram paralisia – ambas haviam sido vacinadas. As investigações iniciais mostraram que os casos estavam ligados a um surto derivado da vacina em curso no Chade, que foi detectado pela primeira vez em 2019 e se espalhou pelo Chade e Camarões. Entre 9 e 26 de agosto de 2020, houve um total de 13 casos de cVDPV2 (circulating vaccine-derived poliovirus type 2), confirmados no Sudão
O vírus ativo da pólio na vacina oral pode sofrer mutação para uma forma capaz de desencadear novos surtos. Mas em áreas onde há falta de saneamento e falta de imunização geral, o vírus pode sobreviver e circular por meses, sofrendo mutações com o tempo até apresentar o mesmo risco de paralisia que a poliomielite selvagem.
Os últimos casos de poliomielite nos EUA ocorreram em 1979, no Brasil em 1990 e nos demais países das Américas – no Peru – em 1991. Os casos mais recentes não eram cepas selvagens, como o último registrado nos EUA pelo CDC em 2013.
O poliovírus selvagem tipo 2 foi erradicado em 1999, com o último caso adquirido naturalmente ocorrendo na Índia. Entretanto, todo o continente africano, 172 casos do tipo 2 em 14 países foram relatados em 2020.
Em abril de 2020, a OMS e seus parceiros recomendaram a suspensão das campanhas de imunização em massa contra a pólio, reconhecendo que a mudança poderia levar ao ressurgimento da doença, um mês após 46 grandes campanhas para vacinar crianças contra a poliomielite e outras vacinas foram suspensas em 38 países, principalmente na África, por causa da pandemia do coronavírus, deixando milhões de crianças vulneráveis à infecções.
Algumas das campanhas foram reiniciadas recentemente, mas mais de 90% das crianças devem estar vacinadas para erradicar esta e outras doenças.
As crianças devem tomar todas as vacinas que constam do nosso PNI (Programa Nacional de Imunizações), que são seguras, eficazes e protegem contra graves doenças.
Nós, pediatras, devemos estar cientes de como estas doenças, preveníveis por imunização completa, ainda são implacáveis. Temos que fazer a coisa certa para nossas crianças e adolescentes, visando um bem maior para a nossa comunidade – não só brasileira, mas global.
Todos devem estar com as vacinas em dia ou atualizar suas carteiras de imunizações, antes que passemos a reviver as tragédias destas doenças, que ocorreram num passado não tão distante assim.
Saiba mais:
https://health.ny.gov/press/releases/2022/2022-07-21_polio_rockland_county.htm
https://www.frontliner.com.br/surto-de-poliomielite-no-sudao-e-de-poliovirus-derivado-de-vacina/
Renata D. Waksman
Presidente da SPSP