SPSP – Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 17/04/2020
Relator: Moises Chencinski
Presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo
A importância do aleitamento materno desde a sala de parto – exclusivo e em livre-demanda até o 6º mês, complementado com alimentação saudável até 2 anos ou mais, e desmame natural, conforme recomendação universal – é inquestionável, tanto do ponto de vista nutricional, quanto do vínculo e, especialmente nesse momento, no que se refere à imunidade.
A comunidade científica internacional reconhece o aleitamento materno como a “primeira vacina” de um recém-nascido, que deve, com certeza, ser complementada com a vacinação, para se atingir níveis de proteção imunológica geral e específica.
A COVID-19, que surgiu de forma inesperada, se propaga pelo mundo de maneira rápida e perigosa, gerando, ainda, mais perguntas do que respostas definitivas1. O alto índice de contagiosidade e as taxas crescentes de óbitos causados pelo SARS-CoV-2 são apresentados diariamente em todos os noticiários. Os tratamentos medicamentosos estão ainda em fase de comprovação e, através do estudo da evolução dos quadros nessa pandemia, ainda não garantem a cura rápida e definitiva dos pacientes acometidos pela doença. Mas, já estamos evoluindo e há esperanças através da progressão das pesquisas.
Os estudos em busca da descoberta da vacina contra o SARS-CoV-2 também estão progredindo. Porém, o prazo para a sua elaboração, testes de eficácia e de segurança, ainda devem levar meses para serem concluídos e utilizados.
Assim, o caminho que temos para combater a COVID-19 é a prevenção. Apesar de todo o progresso e evolução da ciência, continuamos no mesmo mantra: PREVENIR É MELHOR DO QUE REMEDIAR.
O isolamento social, evitando-se o contato próximo (não dar as mãos, não abraçar, não beijar), a lavagem de mãos, uso de álcool gel, cuidados com as roupas, com os objetos e uso pessoal, as saídas de casa apenas para situações emergenciais ou absolutamente necessárias, sempre com máscaras (de pano, para a população em geral) são algumas das ações para diminuir a contaminação e deter a transmissão do vírus.
Outra constatação da atual pandemia, até o momento (17/04/2020 – 11:00 horas da manhã), é a não comprovação irrefutável de transmissão vertical (da gestante para o feto e da lactante para seu bebê).
Assim, a OMS, o Ministério da Saúde2, a FEBRASGO3, a Sociedade Brasileira de Pediatria4 e a Sociedade de Pediatria de São Paulo5 (através dos seus Departamentos Científicos de Aleitamento Materno e Neonatologia, respectivamente), recomendam:
1. Manter o aleitamento materno desde a sala de parto, no alojamento conjunto, em UTIN e em casa, reconhecendo que os benefícios dessa prática superam em muito os riscos de contaminação pela COVID-19;
2. Essa recomendação é válida para lactantes assintomáticas, suspeitas ou comprovadamente COVID-19, confirmadas através de exames;
3. Caso a nutriz não se sinta confortável, não deseje ou não esteja em condições de amamentar, ela pode extrair seu leite, seguindo as recomendações de segurança que estão na Cartilha para a Mulher Trabalhadora que Amamenta6 e pedir para outra pessoa, saudável e que tenha sido devidamente orientada, oferecer, tentando evitar ao máximo a utilização de mamadeiras grandes ou pequenas. Nesse caso, utilizar copinhos ou colheres (dependendo da idade da criança);
4. Independentemente da situação sorológica:
- lavagem das mãos por 20 segundos antes e depois do processo (amamentar ou extrair o leite materno);
- uso de máscaras do início ao final do processo;
- evitar tocar nas mãos do bebê (que pode levá-las à boca) e que o bebê coloque suas mãos no rosto (boca, nariz, bochechas) e cabelos da mãe;
- ao final da mamada, pedir a outra pessoa (especialmente as mães COVID-19 suspeitas, sintomáticas ou confirmadas) que faça a oferta do leite, em caso de ter sido retirado, e que depois complete os cuidados com o bebê (cuidando das trocas, banho e colocar para dormir).
Assim, o aleitamento materno é recomendado, mesmo e especialmente nesse momento de pandemia.
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Vale ressaltar que as recomendações aqui contidas são provisórias e poderão ser modificadas à medida que novos dados forem publicados.
Referências
- Procianoy RS, Silveira RC, Manzoni P, Sant’Anna G. Neonatal COVID-19: little evidence and the need for more information. J Ped (Rio J). In Press 2020. Available from: https://doi.org/10.1016/j.jpedp.2020.04.002
- Brazil – Ministério da Saúde [homepage on the Internet]. Orientações direcionadas ao Centro de Operações de Emergências para o Coronavírus (COE Covid-19) a serem adotadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para a amamentação em eventuais contextos de transmissão de síndromes gripais. Nota Técnica Nº 7/2020-DAPES/SAPS/MS [cited 2020 Mar 24]. Available from: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/SEIMS_0014033399_Nota_Tecnica.pdf
- FEBRASGO – Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. [homepage on the internet]. COVID-19 [cited 2020 Mar 24]. Available from: https://www.febrasgo.org.br/pt/covid19
- Sociedade Brasileira de Pediatria [homepage on the internet]. O aleitamento materno nos tempos de COVID-19! [cited 2020 Mar 24]. Available from: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22393cNota_de_Alerta_sobe_Aleitam_Materno_nos_Tempos_COVID-19.pdf
- Sociedade de Pediatria de São Paulo [homepage on the Internet]. Recomendações para cuidados e assistência ao recém-nascido com suspeita ou diagnóstico de COVID-19 (2ª versão – atualizada em 06/04/2020) [cited 2020 Apr 10] Available from: https://www.spsp.org.br/PDF/COVID%20Recomenda%C3%A7%C3%B5es%20DC%20Neo%20SPSP-6abril2020.pdf
- Brazil – Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas [homepage on the Internet]. Cartilha para a mulher trabalhadora que amamenta [cited 2020 Mar 24]. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. 2ª ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_mulher_trabalhadora_amamenta.pdf