“Aldeia global” e o “Admirável mundo novo” 

“Aldeia global” e o “Admirável mundo novo” 

Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 17/05/2022


No dia 17 de maio se comemora o Dia Mundial da Internet – a rede mundial de comunicação que tornou a previsão de Marsh Mcluhan ainda mais verdadeira: o mundo virou uma aldeia global. Tudo parece online, próximo e instantâneo. A data visa trazer uma reflexão sobre as potencialidades e desafios das novas tecnologias na vida dos cidadãos deste Admirável mundo novo. Foi estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em janeiro de 2006 e é também conhecida como o Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade de Informação.

A internet originou-se na segunda guerra mundial e, nos finais dos anos 60, tinha como objetivo criar um canal de comunicação restrito aos serviços militares norte-americanos.

O advento da internet originou uma grande mudança no cotidiano das pessoas, na forma como comunicam entre si, como procuram e recebem informação, compram bens e serviços, entre muitas outras ações do dia a dia.

Assim como a faca que corta o bolo pode servir para matar alguém, a internet tem seus convenientes e maravilhas, seus inconvenientes e mazelas. Os pais devem alertar os filhos sobre os riscos que esta ferramenta extraordinária da comunicação humana pode representar – é importante e necessário conversar sobre o “lado escuro da internet”, alertá-los sobre as armadilhas e as possíveis consequências. Esclarecê-los que há gente de má índole pescando nesse oceano de comunicação querendo fisgá-los, nem sempre com boas intenções – muito cuidado com o phishing.

É necessário diálogo e vigilância, estabelecer regras claras e limites nítidos para o uso da internet, como tempo de uso (o excesso de horas de navegação é prejudicial à saúde), horário para utilização (lembrem que os pedófilos gostam da noite para “dar o bote”).

 

Os alertas que se seguem são importantes para passar e reforçar para os filhos:

  1. Pensar antes de postar: ensinem seus filhos a pensar antes de postar (para não se arrependerem mais tarde), especialmente se for algo que ofenda os outros. Façam com que eles entendam que sempre há consequências para suas ações, mesmo que sejam “apenas” online. O limite da liberdade de expressão é sempre o dano que causa ao outro.
  2. Adicionar desconhecidos nas redes sociais: a invasão da privacidade é um grande risco. Ao adicionar um desconhecido a seu Facebook ou Instagram, a criança e o adolescente permitem que ele tenha acesso a informações que colocam na página. Assim, por meio de fotos e publicações, é fácil descobrir onde estudam, em que bairro moram, qual é a profissão dos pais e outros hábitos da família.
  3. Desenvolver relacionamento com estranhos: os predadores virtuais são capazes de reconhecer vítimas indefesas e entrar em contato com elas por meio de mensagens instantâneas e salas de bate-papo. Após a primeira conversa, passam a seduzi-las com atenção, ternura e gentileza. Assim, especialmente as crianças, passam a ver no indivíduo um amigo e confidente, o que pode levar a encontros perigosos.
  4. Acessar links suspeitos: para os adultos, pode parecer óbvio que links que prometem coisas surpreendentes são falsos, mas para as crianças, que são mais ingênuas, nem sempre. Ao clicar neles, seu filho poderá deixar o acesso livre para hackers invadirem o dispositivo eletrônico e terem acesso a uma série de informações da família.
  5. Ser vítima do cyberbullying: que é uma forma de assédio e agressão que ocorre entre colegas e pares da mesma faixa etária; utilizam mensagens ou imagens cruéis, para que sejam vistas por mais pessoas. A rápida propagação e sua permanência na internet aumentam e prolongam a agressão contra a vítima, podendo levar a sérias consequências psicológicas. O happy slapping é uma variante de cyberbullying, que ocorre quando uma ou várias pessoas agridem um indivíduo enquanto o incidente é gravado para ser transmitido nas redes sociais. O objetivo é “tirar sarro” da vítima.
  1. Abuso sexual de crianças e adolescentes na internet ou grooming: esta ameaça refere-se a todas as formas de abuso sexual facilitadas por tecnologias da informação e/ou divulgadas através da mídia online. Inclui o uso de imagens ou materiais que documentam a exploração sexual com a intenção de produzir, disseminar, comprar e vender. Outra modalidade é o sexting – definidocomo a autoprodução de imagens sexuais, com a troca de imagens ou vídeos com conteúdo sexual, por meio de telefones e/ou da internet (mensagens, e-mails, redes sociais). Também pode ser considerado como uma forma de assédio sexual, em que uma criança ou um adolescente é pressionado a enviar uma foto para o “parceiro”, que a propaga sem o seu consentimento. É um caminho para a sextorsão (sextortion) – chantagear crianças ou adolescentes por meio de mensagens intimidadoras e ameaçar propagar imagens sexuais ou vídeos gerados pelas próprias vítimas. A intenção do extorsionista é continuar com a exploração sexual e/ou ter relações sexuais com a vítima.
  2. Não comprar pelo aplicativo sem a aprovação dos pais: embora a maioria dos jogos possa ser baixada gratuitamente, há alguns que estimulam as compras no aplicativo para obter reforços ou atingir novos níveis. Orientem seus filhos a primeiro pedir permissão, se quiserem fazer compras ou, melhor ainda, removam a possibilidade de fazer compras online, introduzindo restrições em seus dispositivos.

 

Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo

 

Foto: natasha fedorova | depositphotos.com