O álcool é a substância psicoativa mais consumida pelos adolescentes, superando o cigarro e outras drogas, com uso cada vez mais precoce e prevalente.
A adolescência é a fase de transição da infância para a vida adulta, sendo um importante momento de desenvolvimento de habilidades e aquisição de autonomia para assumir responsabilidades no futuro. Nesta fase, há alterações psicossociais, hormonais, emocionais, corporais e neuropsicológicas, que despertam no indivíduo curiosidade e desejo de conhecer novas vivências. Essas mudanças podem acarretar uma maior vulnerabilidade para experimentar álcool e outras drogas. Isso aumenta os riscos de desenvolvimento de hábitos inadequados, que podem trazer prejuízos à saúde e se estender por toda vida.
Os fatores genéticos, ambientais e sociais influenciam no uso do álcool pelos adolescentes, sendo um fenômeno multifatorial. Destaca-se a atitude permissiva dos pais como um dos principais determinantes para sua utilização
ao longo da vida.
O consumo do álcool pode levar a prejuízos biológicos, cognitivos, emocionais e sociais na adolescência. Atua de forma negativa no desenvolvimento do sistema nervoso central, que ocorre até os 25 anos de idade, com alterações e lesões principalmente no último lobo cerebral a ser desenvolvido, que é o frontal. O lobo frontal é responsável pelo controle das atitudes, desenvolvimento da moral, capacidade de organização e tomada das decisões, controle dos impulsos e elaboração de planos para o futuro.
Em curto prazo, essas lesões podem levar a comportamentos agressivos, maior risco de violência, inclusive sexual, com mais exposição às doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada, associação com acidentes automobilísticos, aumentando a possibilidade de óbito e de lesões permanentes e uma predisposição ao consumo de outras substâncias psicoativas. Já em longo prazo pode levar a distúrbios na aprendizagem, memória, queda no rendimento escolar e maior risco de dependência de substâncias psicoativas ao longo da vida, favorecendo a aquisição de hábitos inadequados.
Apesar de no Brasil estar liberado o consumo de álcool acima dos 18 anos, devemos orientar os pais quanto ao risco de seu uso abaixo dos 25 anos. O uso de álcool nesta fase deve ser desencorajado, uma vez que é altamente prejudicial à saúde física e mental do adolescente e sua família, com repercussões negativas durante toda a vida adulta. Os adolescentes tendem a acreditar que nada de errado acontecerá com eles, além de ter a tendência a comportamentos que desafiem as regras e a necessidade de aceitação por parte dos amigos e grupos sociais, levando ao consumo de substâncias nocivas. Além disso, pela fase de desenvolvimento, não há uma percepção clara da repercussão de suas atitudes, cabendo aos pais e profissionais de saúde fornecerem suporte com orientações adequadas.
O pediatra, por atuar no período de maior desenvolvimento da potencialidade humana, tem a função de criar condições de proteção e defesa àqueles que venham a se encontrar em situações de risco e vulnerabilidades específicas. Em conjunto com a família, deve acolher, apoiar e orientar o adolescente quanto aos riscos da exposição ao álcool. Quanto mais estruturada for a rede de apoio e a assistência nesta fase, maior a chance de construção de hábitos adequados de vida, com repercussões muito positivas durante a existência do indivíduo.
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Relatora:
Natália Tonon Domingues
Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo