Álcool, cigarro eletrônico, maconha? Que droga!

Álcool, cigarro eletrônico, maconha? Que droga!

Neste mês, um pecuarista e seu filho morreram em um acidente aéreo em Rondônia. Um vídeo que circulou dois dias antes nas redes sociais mostra este senhor de 42 anos bebendo cerveja e instruindo seu filho, de apenas 12 anos, a pilotar um avião bimotor. No vídeo, o pai está bebendo uma cerveja e coloca a garrafa entre suas pernas para instruir seu filho a pilotar o avião (é bom destacar que é proibido pilotar qualquer tipo de avião sem a devida autorização, instrução e formação para tal e que, no Brasil, a pilotagem só é permitida a partir dos 16 anos). Ainda no vídeo, é possível ver o pai usando a mão para esconder a matrícula do avião, para que não fosse identificado pelas autoridades. Os dois morreram no último sábado, 29, após um acidente aéreo no interior de Rondônia.

Uma jovem de 22 anos foi abandonada, desacordada, por um motorista de aplicativo na porta de casa no Bairro Santo André, na Região Noroeste de Belo Horizonte, na madrugada de domingo (30/7). Foi estuprada em seguida. O crime chama a atenção pela sucessão de erros que culminaram no estupro da jovem, como apontam os investigadores do caso. Conforme o boletim de ocorrência, no sábado (29/7), a vítima estava em um evento de pagode que aconteceu no Mineirão, na Região da Pampulha, quando, por volta das 2h decidiu ir embora. Ela teria ingerido grande quantidade de bebida alcoólica e, na volta do show, seus amigos a colocaram, sozinha, em um carro de aplicativo e compartilharam a localização da viagem com o irmão dela. A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) afirmou que, além do agressor, outras pessoas serão investigadas e podem ser responsabilizadas pelo caso. Entre elas estão o motorista de aplicativo, o motociclista que passou pelo local e ajudou a retirar a vítima do carro e deixá-la no meio-fio, e o amigo que a colocou no carro, sozinha. Por tê-la deixado nessa situação, o motorista pode responder pela omissão de socorro.

Na minha opinião, nos dois casos há um agravante que não foi discutido ou responsabilizado: a ingestão de bebida alcoólica, que colocou ambos em situação de vulnerabilidade.

Não se omite a responsabilidade de um pai que permite um filho menor de idade ter o controle de um avião em voo, tapando o número de série da aeronave e usando bebida alcoólica, ridicularizando a legislação em questão. Não se omite a responsabilidade dos amigos da outra jovem, do motorista que a abandonou na rua, mas pouco se discute a regulamentação da bebida alcoólica, ou responsabilização dos que vendem ou fornecem bebida alcoólica em excesso para outros. Não somos contra a bebida alcoólica, mas sim somos contra a falta de regulamentação do seu uso no Brasil, como é feito em outros países. A impunidade característica do nosso meio estimula excessos, que levam a situações de risco.

O exemplo dos pais é um fator importantíssimo na orientação das crianças e dos jovens. Se o pai não cumpre as normas legais da sociedade, haverá muita chance dos filhos também não seguirem. Isto vale não só em relação às drogas, mas a toda a educação dos nossos filhos.

O cigarro eletrônico está tomando um vulto grande demais para que não nos coloquemos na prevenção de algo que faz mal à saúde, tanto ou mais do que o cigarro normal, porque ele está sendo utilizado pela juventude, que acredita que não vicia e desconhece o efeito maléfico que pode produzir. É a mesma situação dos nossos avós com o cigarro normal!

Em relação à liberação do porte de maconha, acho incrível que não se faça ao mesmo tempo uma ampla campanha sobre o possível malefício que ela pode trazer, com os mesmos problemas pulmonares do cigarro e a possível lesão cerebral irreversível que pode produzir.

Nossos políticos tentam tapar o sol com a peneira, retardando ou engavetando qualquer possibilidade de regulamentação do uso de álcool no Brasil, fechando os olhos para a proibição do cigarro eletrônico, proibido no país, mas não fiscalizado, e aprovando a descriminalização do porte de maconha sem ampla campanha de orientação.

Exemplos não faltam: Amsterdã tem zonas livres do álcool, do tabaco e da maconha; nos EUA não se consome bebida alcoólica na rua e antes dos 21 anos e nós continuamos vendendo bebida na rua, onde o menor de idade a compra sem pudores.

O uso das drogas começa dentro de casa. Abramos os olhos. Prevenção é tudo!

 

Relator:
João Paulo Lotufo
Presidente do Núcleo de Estudos de Combate ao Uso de Drogas por Crianças e Adolescentes da Sociedade de Pediatria de São Paulo