Adolescentes e redes sociais

Adolescentes e redes sociais

Em 30 de junho comemora-se o Dia Mundial das Redes Sociais. As tecnologias de informação e comunicação vêm alterando a maneira de ser e de viver da sociedade e das famílias, configurando-se uma verdadeira revolução na organização social, que diminuiu as distâncias e otimizou o tempo. É natural que pais e educadores de adolescentes, diante desse tema tão complexo, tenham preocupações relativas à segurança sobre o uso dos dispositivos tecnológicos e das novas mídias pelos jovens. O computador ou, mais modernamente, um dispositivo que caiba na mão, como o smartphone (que proporcione a mesma plena experiência de navegação), é um dos bens de consumo mais disseminados e desejados hoje em dia.

Para refletir sobre a maneira como os adolescentes interagem com este mundo e como os responsáveis pelo cuidado e educação desses jovens se posicionam e estabelecem normas para essa interação, é necessário destacar algumas premissas:

  1. Violências, como racismo, homofobia, misoginia, injúria, calúnia ou difamação, dentre tantos outros, são crimes, seja no ambiente on-line ou off-line.
  2. Desde que o mundo é mundo, pais querem (e devem) saber com quem seus filhos estão se relacionando.
  3. Regras e valores existem no mundo e na casa e a tecnologia é apenas mais um componente a ser regrado.

Poderíamos terminar nossas reflexões por aqui: falando que o papel mais importante dos pais e educadores dos dias de hoje é o estímulo para conhecerem juntos aos seus adolescentes esse campo de possibilidades que tem se aberto com o uso das tecnologias.

Vivemos em uma era diferente: inundados por um excesso de informações, submersos num mar de possibilidades e de cliques de fotos, textos, conversas e produtos. É um grande equívoco querer medir esse fenômeno com uma perspectiva saudosista e “tecnofóbica”, quando “tudo antes era melhor”. Por outro lado, é falha a perspectiva de idolatria à tecnologia que considera que todas as necessidades do mundo irão se resolver. Extremos perigosos.

Preferimos ir pelo meio: o mundo virtual e digital está aí, nas nossas mãos e de nossos adolescentes. A internet não é a rede mundial de computadores, a internet é a rede mundial de pessoas conectadas atrás de cada computador.

Indivíduos em grupos tendem a agir de maneira diferente do que fariam isoladamente, muitas vezes adotando comportamentos e crenças do próprio grupo. Um ponto de destaque da relação entre as redes sociais e as características contemporâneas é a “normalização de comportamentos”. De uma maneira bem simples, significa que um comportamento gerado numa rede social passa a ser compreendido pelos seus participantes como habitual e comum. Surpreende-nos o número de curtidas em comunidades que ensinam comportamentos alimentares restritivos e purgativos escondidos dos pais, desafios perigosos de asfixia ou outros hábitos pouco saudáveis de vida. A normalização de comportamentos em redes sociais é um fenômeno influenciado pela busca de aprovação social, pela dinâmica de comportamento de grupo e pelas características intrínsecas das plataformas digitais. Este processo de “normalização” pode ter implicações significativas, tanto positivas quanto negativas, para a sociedade. Por um lado, pode promover a solidariedade e o apoio mútuo; por outro, pode levar à disseminação de comportamentos prejudiciais ou estimuladores de preconceitos e divisões.

O fenômeno do “Fear of Missing Out” (FOMO), ou medo de estar perdendo algo, tornou-se uma questão significativa, especialmente entre adolescentes imersos nas redes sociais. Este conceito reflete a ansiedade e o desconforto gerados pela percepção de que outros podem estar vivenciando eventos, interações ou experiências das quais um indivíduo está ausente. Adolescentes, estando em uma fase crítica de desenvolvimento de identidade e pertencimento social, são particularmente vulneráveis a esse sentimento. A constante exposição a atualizações, fotos e vídeos de amigos e conhecidos participando de atividades aparentemente gratificantes pode criar uma sensação persistente de estar de fora, exacerbando sentimentos de solidão, insatisfação, ansiedade e depressão. Além disso, o FOMO pode contribuir para a deterioração da qualidade do sono, uma vez que muitos adolescentes permanecem on-line até tarde da noite, e para a diminuição da capacidade de concentração e desempenho acadêmico.

Os riscos on-line podem ser divididos em quatro categorias:

Riscos de Conteúdo: indivíduos são expostos a conteúdos indesejáveis e potencialmente prejudiciais (imagens sexuais, publicidade inapropriada, material racista, discriminatório, extremista, violento e fake news, por exemplo).

Riscos de Contato: o sujeito participa de comunicações arriscadas, como com um adulto buscando contato inapropriado, para fins sexuais ou persuasões para participar em comportamentos perigosos.

Riscos de Conduta: quando uma criança ou adolescente se comporta de maneira a contribuir para conteúdo ou contato arriscado, participando ou testemunhando condutas potencialmente danosas (cyberbullying, trollagens, “cancelamentos” e todos os atos com o intuito de causar constrangimento público).

Riscos de Contrato: quando o adolescente “aceita” os termos e condições de um provedor de serviços digitais (marketing exploratório para a idade, roubo de dados, entre outros).

Pais, educadores e profissionais de saúde têm um papel fundamental para as mediações com os adolescentes, para boas escolhas nesses tempos de mobilidade e interação. E nesse contexto, devem orientar, mesmo que se sintam distantes das habilidades tecnológicas, que são eles, os adolescentes, protagonistas da discussão sobre respeito, liberdade, cuidado de si e do próximo, tolerância e diálogo. E, ao enfrentar essas questões, não apenas os adolescentes podem se sentir mais satisfeitos e seguros em sua vida social, mas também capacitados em sua autonomia para construir relações off-line mais autênticas e significativas.

 

Relatores:
Benito Lourenço
Maíra Pieri Ribeiro
Departamento Científico de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo