26 de Junho é o Dia Internacional de Combate às Drogas. Vamos falar sobre o uso dessas substâncias.
O uso de substâncias psicoativas na adolescência e as consequências de sua morbimortalidade acarretam grande impacto direto e indireto na saúde de crianças e adolescentes, desde a exposição pré-natal e desfechos complicados de gravidez até a significativa morbidade e mortalidade entre adolescentes; e contribuem, ao longo do tempo, o desenvolvimento de muitos outros problemas de saúde e graves transtornos por uso abusivo de substâncias.
Embora seja comum na sociedade contemporânea que adolescentes e adultos jovens experimentem substâncias psicoativas ou drogas lícitas ou ilícitas, é importante que essa experimentação não seja tolerada, facilitada ou banalizada pelos adultos, particularmente os pais. Mesmo o primeiro uso de uma substância psicoativa pode resultar em consequências trágicas como, por exemplo, acidentes com ferimentos, vitimização ou mesmo eventos fatais com terceiros.
No Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE, 2015) com alunos do 9º ano do ensino fundamental revelou que nos 30 dias anteriores à pesquisa, 5,6% havia usado cigarros e 23% havia consumido bebida alcoólica; enquanto 9% havia experimentado drogas ilícitas alguma vez na vida.
O período da adolescência (se estende dos 12 aos 20 anos) se caracteriza por intensa modelagem e maturação do neurodesenvolvimento, o que confere maior vulnerabilidade em uma fase em que os comportamentos de risco são mais prevalentes. Os adolescentes são particularmente suscetíveis a lesões relacionadas aos riscos, incluindo aquelas associadas ao uso de álcool e outras drogas.
A maioria das consequências do uso de álcool e drogas durante a adolescência deve ser atribuída ao fato de que todo uso de substância confere certo risco. O uso de substâncias está correlacionado com a vida sexual de risco e pode complicar a gravidez na adolescência, por outro lado, a vulnerabilidade ao uso de substâncias pode aumentar nos jovens com doença crônica ou deficiência intelectual. As mudanças no neurodesenvolvimento durante a adolescência conferem particular vulnerabilidade aos vícios. A idade do primeiro uso de substância está inversamente correlacionada com a incidência ao longo da vida de desenvolver um transtorno por uso de substância.
Os pediatras e pais desempenham um papel único no aconselhamento aos adolescentes, e se encontram em uma posição destacada para empoderar o conhecimento e propor as mudanças no comportamento que assegurem o bem-estar de seus filhos adolescentes. As orientações quanto ao uso de substâncias psicoativas podem ser oferecidas de várias formas: prevenir ou retardar o início do uso de substâncias, desencorajar o uso contínuo e reduzir os danos em pessoas de risco intermediário e encaminhar as que desenvolveram transtornos por uso de substâncias que requerem tratamento como medida para salvar suas vidas.
Os pais e até os pediatras devem oferecer o aconselhamento de saúde com mensagens claras e consistentes sobre a abstenção do uso de substâncias. Como grande parte dos adolescentes tem contato com um médico anualmente, os considera uma fonte confiável de conhecimento sobre álcool e drogas e são mais receptivos a discutir o uso de substâncias; os atendimentos médicos são janelas de oportunidade para abordar o uso de substâncias.
A Academia Americana de Pediatria (AAP) publicou, em 2016, sua declaração de recomendação para a “Triagem universal de uso de substâncias, intervenção breve e/ou encaminhamento para tratamento para os pediatras”, apresenta os fundamentos básicos para os pediatras oferecerem orientação clínica, baseada em evidências, para triagem de uso de substâncias de abuso e os procedimentos de intervenção. Os adolescentes são a faixa etária com maior risco de sofrer consequências agudas e crônicas para a saúde relacionadas ao uso de substâncias. Portanto, pais, obtenham com seus pediatras orientações quanto ao uso precoces de drogas.
Aconselhamento breve e intervenção breve8
Aconselhamento Breve (AB) nada mais é do que “gastar” alguns minutos tratando sobre a questão do tabaco e outras drogas, atuando na prevenção para não usuários. A Intervenção Breve (IB) é uma conversa mais dirigida para os usuários de droga. Esta é um pouco mais elaborada e leva um pouco mais de tempo e dedicação. As intervenções, geralmente, assumem a forma de uma conversa e podem incluir feedback sobre o uso de drogas, informações sobre malefícios e conselhos sobre como reduzir o consumo. As intervenções breves podem incluir aconselhamento para mudança de comportamento.
Quanto mais intenso e repetitivo for o aconselhamento, maior o alcance de nosso objetivo: tolerância zero para o tabaco, tolerância zero para a maconha e para outras drogas ilícitas, e tolerância zero para a bebida alcoólica antes dos 18 anos (melhor seria até os 21 anos, idade para desenvolvimento quase total do cérebro). Qualquer droga utilizada antes desta idade, a chance de dependência e de problemas é maior. Vale lembrar que a maconha produz os mesmos malefícios que o cigarro a nível respiratório, além de ter 50% mais substâncias cancerígenas do que o tabaco.
A principal característica do AB é a continuidade por parte de todos que se envolvem com um programa de prevenção, sendo importante anotar detalhadamente a conversa desenvolvida e retomar ao tema em conversas posteriores. Palestras únicas são pouco ou nada efetivas, mas um programa contínuo e repetitivo pode ser eficaz.
O aconselhamento breve deve ser realizado com a presença dos pais na consulta, pois eles também demonstram interesse e dificuldade em lidar com o assunto. Desta forma, se pais e crianças ouvirem juntos o que foi conversado, poderão reverberar posteriormente em casa o que foi discutido. Algumas recomendações são importantes para essa dinâmica funcionar de uma forma mais adequada: não se pergunta ao adolescente se ele usa alguma droga, pois só gerará constrangimento e respostas imprecisas. Para introduzir o assunto, basta perguntar se ele conhece “o risco das drogas”. Depois do AB, pode ser realizado um aprofundamento das discussões.
Pais, lembrem-se de que o seu exemplo é um fator muito forte para o não uso de drogas por seus filhos. Se vocês fumam, como falar para eles não fumarem. Se vocês bebem em excesso, como falar para eles não beberem. Se vocês bebem só um pouquinho e saem dirigindo, eles farão o mesmo, mas a quantidade de bebida ingerida poderá ser maior.
Relator:
João Paulo Becker Lotufo
Núcleo de Estudos de Combate ao Uso de Drogas por Crianças e Adolescentes
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