A vacina, provavelmente junto com a água potável, representa uma das mais importantes conquistas da humanidade no campo da saúde pública, contribuindo inclusive para o aumento da expectativa de vida observado nas últimas décadas nas diversas populações. Ainda sim, alguns grupos acreditam que vacinas não devem ser indicadas. “Infelizmente, temos observado que as taxas de coberturas vacinais – tanto no Estado de São Paulo como no País –, outrora em níveis bastante elevados, têm consistentemente apresentado reduções expressivas”, afirma Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, presidente do Departamento de Imunizações da SPSP. “Muitas notícias falsas, amparadas em estudos inidôneos, além de radicalismos dentre alguns (e – ainda bem – raros) profissionais de saúde, fizeram com que dúvidas sobre a eficácia, e mais grave, sobre ‘grandes riscos” relacionados às vacinas tomassem corpo e conduzissem a um aumento na recusa vacinal”, comenta Claudio Barsanti, presidente da SPSP. É uma situação alarmante, que coloca a população em risco de voltar a conviver com doenças já controladas, ou mesmo eliminadas, no Brasil, como por exemplo, sarampo, rubéola, difteria, entre outras.
De acordo com Regina Célia Succi, membro do Departamento de Infectologia da SPSP, em 2016, após uma queda nas taxas de imunização nos estados de Pernambuco e Ceará, o País registrou o primeiro surto de sarampo desde 2000. Também em 2016 a taxa de imunização contra poliomielite foi a menor dos últimos doze anos (84,4%). “Não há dados suficientes para definir se essa queda na cobertura vacinal persistirá, mas há preocupações a respeito”, comenta a infectologista.
Os benefícios diretos e indiretos gerados com ações de imunizações são inequívocos e surpreendentes: inúmeras evidências demonstram seu potencial de redução da mortalidade entre crianças, adolescentes e adultos, melhoria das condições de saúde e bem-estar das comunidades. “Além de representar economia para a sociedade, tanto através de redução de custos com consultas, tratamentos e internações hospitalares decorrentes das doenças, como de menor absenteísmo escolar e de trabalho”, explica Sáfadi. “A imunização é o investimento em saúde com melhor custo-efetividade e a Organização Mundial de Saúde estima que as imunizações evitem entre dois e três milhões de mortes a cada ano no mundo”, complementa Regina Célia. Ela esclarece que, apesar dos benefícios serem indiscutíveis, só podem ser obtidos com elevado custo financeiro e o empenho de uma grande estrutura dos programas públicos de vacinas e autoridades sanitárias, além da atuação individual dos profissionais de saúde. “O Programa Nacional de Imunizações (PNI) no Brasil é competente e reconhecido, e tem obtido coberturas vacinais superiores a 90% para quase todos os imunobiológicos distribuídos na rede pública nas últimas décadas”, informa a médica.
“No sentido mais amplo do cuidar, os pais e responsáveis que se sentem inseguros evitam a aplicação das vacinas, o que traz repercussões individuais e coletivas de grande risco, comprometendo não só a saúde do indivíduo não vacinado, mas também, de toda a população”, alerta Barsanti. O presidente do Departamento de Imunizações lista: as vacinas foram responsáveis pela erradicação da varíola no mundo, eliminaram a poliomielite, o sarampo e a rubéola em vários países, além de terem reduzido e controlado doenças que eram responsáveis por milhares de mortes, sequelas e hospitalizações, como o tétano, as meningites causadas pelo Haemophilus influenzae b, meningococo e pneumococo, a caxumba, a varicela, a diarreia pelo rotavírus, as hepatites A e B, entre outras.
Campanha Abril Azul
O profissional de saúde, especialmente o pediatra, é considerado a principal e mais confiável fonte de informação para as famílias sobre a importância das vacinas. “Atualmente, há uma crescente disponibilidade de novas vacinas e frequentes atualizações dos calendários vacinais, o que exige atualizações frequentes do pediatra”, conta Regina Célia Succi. Nesse sentido, a Sociedade de Pediatria de São Paulo lançou a campanha Abril Azul – Eu cuido, eu confio, eu vacino. Um dos objetivos é conscientizar o profissional de saúde do seu papel fundamental na manutenção da confiança e credibilidade das vacinas, habilitando-o a enfrentar a questão da hesitação ou recusa vacinal de forma ética e segura. “A confiança dos pais e responsáveis no pediatra e em suas orientações é uma verdade e se mostra como o principal caminho para que se demonstre a importância de um calendário vacinal completo”, defende o presidente da SPSP.
Outro objetivo é o de apoiar, através de educação, informação e conscientização, ações que promovam o alcance das imunizações à nossa população. “Creio ser uma obrigação da comunidade científica, neste momento em que as notícias falsas e manipuladas se tornaram cotidianas, desempenhar o seu papel de esclarecimento, enfatizando o impacto proporcionado pelos programas de imunização na prevenção de doenças e todos os desfechos associados a elas, como sequelas, hospitalizações e mortes”, enfatiza Marco Aurélio Palazzi Sáfadi. “Vamos todos participar, explicando a todos os envolvidos na atenção à criança e ao adolescente que as vacinas são aliadas e não inimigas na busca da saúde”, finaliza Claudio Barsanti.
___
Publicado em 13/04/2018
Este blog não tem o objetivo de substituir a consulta pediátrica. Somente o médico tem condições de avaliar caso a caso e somente o médico pode orientar o tratamento e a prescrição de medicamentos.
Esta obra foi licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Brasil.