A importância do seguimento ambulatorial da criança com baixo peso ao nascer

Relatoras:

Dra. Cátia Regina Branco da Fonseca
Doutora em Pediatria, Profa. Assistente Doutora do Departamento de Pediatria da FMB – UNESP e  membro do Depto. Científico de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da SPSP.

Dra. Maria Wany Louzada Strufaldi
Doutora em Pediatria – Profa. Adjunta do Departamento de Pediatria da UNIFESP e membro do Depto. Científico de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da SPSP.

Dra. Rosana Fiorini Puccini
Livre Docente – Professora Titular do Departamento de Pediatria da UNIFESP e membro Depto. Científico de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da SPSP.

Texto divulgado em 10/07/2013

O baixo peso ao nascer (BPN), definido pela OMS como o peso de nascimento inferior a 2.500 gramas(1), é um relevante determinante biológico da sobrevivência do recém-nascido em condições adversas e um importante indicador de saúde de uma população. Sua importância decorre da capacidade que apresenta para predizer risco elevado de morte infantil e adoecimento entre as crianças nascidas sob essa condição, e reflete a exposição a fatores de risco, como condições socioeconômicas desfavoráveis, má nutrição e doenças maternas e deficiência na atenção ao pré-natal e ao parto(2).

Como causas do BPN destacam-se a prematuridade, o aumento na frequência de fetos com restrição de crescimento intrauterino e, ainda, a interrupção precoce da gravidez(3). Os dados registrados pelo DATASUS(4) para o Brasil, no período entre 2007 a 2011 mostram índices entre 8,25 % a 8,41%, entretanto, o Estado de São Paulo, vem verificado índices mais elevados, com uma proporção entre 9,09% a 9,26% neste mesmo período(5).

O acompanhamento ambulatorial é fundamental para este grupo de crianças, uma vez que a detecção e a intervenção precoce das alterações do crescimento e desenvolvimento constituem importantes fatores prognósticos para a sua qualidade de vida. Os problemas que essas crianças podem apresentar no crescimento físico, cognitivo e mental, além de dificuldades escolares e nutricionais, doenças respiratórias e gastrointestinais, devem ser bem monitorados rotineiramente pelos pediatras(6).

Essa população representa, hoje, importante demanda nos consultórios e serviços de saúde, sendo necessárias ações integradas e articuladas que envolvem as áreas da saúde – atenção básica, equipes multiprofissionais – da educação e a comunidade.

O seguimento ambulatorial do crescimento e desenvolvimento infantil devem ser eixos referenciais para todas as atividades de atenção à criança e ao adolescente sob os aspectos biológicos, afetivo, da linguagem, psíquico e social.

O crescimento é considerado um dos melhores indicadores de saúde da criança, em razão de sua estreita dependência de fatores ambientais, como alimentação, ocorrência de doenças, cuidados gerais e de higiene, condições de habitação e saneamento básico e acesso aos serviços de saúde, entre outros, refletindo as condições de vida da criança, no passado e no presente(7,8).

O desenvolvimento psicossocial é o processo de humanização que inter-relaciona aspectos biológicos, psíquicos, cognitivos, linguísticos, ambientais, socioeconômicos e culturais, mediante o qual a criança vai adquirindo maior capacidade para mover-se, coordenar, sentir, pensar, comunicar-se e interagir com os outros e o meio que a rodeia. A partir da análise do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, torna-se possível estabelecer condutas curativas dirigidas aos processos patológicos presentes, condutas preventivas adequadas a cada idade incluindo vacinação, alimentação, promoção e estimulo aos cuidados gerais com a criança, em um processo contínuo de educação para a saúde.

Weiss e Fujinaga(9) ressaltam que uma criança que foi exposta a algum fator de risco não necessariamente apresentará algum déficit de desenvolvimento, mas pode estar mais suscetível a desenvolver alguma alteração. Nas últimas décadas, tem sido evidenciada a intensa neuroplasticidade do cérebro humano, mais acentuada nos primeiros anos de vida e suscetível à estimulação. Nesse sentido, a suspeita de atraso deve ser precoce, sendo a detecção e intervenção oportunas das alterações de desenvolvimento importantes fatores prognósticos para a qualidade de vida dessas crianças(10).

A prematuridade constitui fator de risco para alterações do desenvolvimento da visão, bem como para alterações auditivas, interferindo assim no desenvolvimento físico e cognitivo da criança. Assim, há a necessidade de monitoramento oftalmológico a longo prazo dessas crianças e o desafio do o monitoramento da função auditiva e da linguagem, devido ao possível impacto nos processos de linguagem e aprendizagem(11,12).

O monitoramento clínico pelo pediatra, das crianças nascidas com BPN é fundamental para identificação daquelas que não aceleram e não retomam seu canal de crescimento (catch up), com pior prognóstico em longo prazo, este também é influenciado pelo potencial genético, ocorrência de morbidades respiratórias, restrição do crescimento intrauterino e peso na alta da unidade neonatal(10,13). Por outro lado as crianças nascidas com BPN e que apresentam excessivo ganho ponderal nos primeiros anos de vida têm maior chance de desenvolver obesidade, hipertensão arterial, diabetes e doença cardiovascular na vida adulta(14,15).

 Considerações finais:

As ações para este grupo de crianças nascidas com baixo peso exigem uma atuação interdisciplinar, multiprofissional e, com frequência, intersetorial, que deve sempre ser coordenada pelo Pediatra, profissional fundamental e capaz de envolver e articular as áreas da saúde, educação e comunidade.

O acompanhamento ambulatorial destas crianças e a intervenção oportuna realizada pelo pediatra buscarão por meio de atitudes preventivas e estimuladoras, propiciar ao RN condições para que seu desenvolvimento global ocorra da forma mais adequada possível, além de oferecer suporte técnico e de apoio para que a família se capacite para cuidar da sua criança, podendo desta forma, modificar o seu prognóstico.

REFERÊNCIAS:

  1. Organização Mundial da Saúde [Internet]. Brasil CID-10. Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. 10a Revisão. São Paulo: Edusp 1998: 1184p. Disponível em: http://www.datasus.gov.br/cid10/v2008/cid10.htm.
  2. Barros FC, Victora CG, Barros AJD, Santos IS, Albernaz E, Matijasevich A et al. The challenge of reducing neonatal mortality in middle-income countries: findings from three Brazilian birth cohorts in 1982, 1993, and 2004. Lancet 2005; 365:847-54.
  3. Villar J, Valladares E, Wojdyla D, Zavaleta N, Carroli G, Velazco A et al. Caesarean delivery rates and pregnancy outcomes: the 2005 WHO global survey on maternal and perinatal health in Latin América. Lancet 2006;367:1819-29.
  4. Datasus. Indicadores e dados básicos. Indicadores de fatores de risco e proteção [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2013 [acesso 26 Jun 2013]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br.
  5. Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. Perfil do Estado de São Paulo. Nascidos de Baixo Peso [Internet]. São Paulo: SEADE; [acesso 27 Jun 2013]. Disponível em: http://www.seade.gov.br/produtos/perfil_estado/index.php.
  6. Rugolo LMSS. Crescimento e desenvolvimento a longo prazo do prematuro extremo. J Pediatr 2005;81Supl 1:101-10.
  7. Zeferino AMB, Barros Filho AA, Bettiol H, Barbieri MA. Acompanhamento do crescimento. J Pediatr 2003; 79 (S 1):23-32.
  8. Silva RRF; Puccini RF; Silva EMK. Fatores de risco associados a alterações no desenvolvimento da criança. Pediatria (USP) 2007;29: 117-28. 
  9. Weiss MC, Fujinaga CI. Prevalência de nascimentos baixo peso e prematura na cidade de Irati-PR: implicações para a Fonoaudiologia. Rev Salus 2007;1(2):123-7.
  10. Resegue R, Puccini RF, Silva EMK. Risk factors associated with developmental abnormalities amons high-risk children attended at a multidisciplinar clinic. São Paulo Med J 2008; 126 (1):4-10.
  11. Wong V, O´Connor AR, Newsham D et al. The relationship between ophthalmic deficits and functional ability in low birth weight children.  British and Irish Orthoptic Journal 2008; 50:32-38.
  12. Lewis et al. Comitê multiprofissional em saúde auditiva – COMUSA  Braz J Otorhinolaryngol. 2010;76(1):121-8.
  13. Makhoul IR, Awad E, Tamir A et al. Parental and perinatal factors affecting childhood anthropometry of very-low-birth-weight premature infants: a population-based survey. Acta Paediatrica, 2009.
  14. Hovi P, Andersson S, Eriksson JG et al. Glucose regulation in young adults with very low birth weight. N Engl J Med  2007 356 (20):2053-2063.
  15. Strufaldi MWL; Silva EMK, Puccini RF.  Metabolic Syndrome among prepubertal Brazilian schoolchildren. Diabetes Vasc Dis Res 2008 5:291-297.