A complexidade do uso de drogas na adolescência

A violência pode ser entendida como qualquer ato de constrangimento físico ou moral e compreende qualquer ação que implique em conseqüências danosas para o indivíduo, tanto de ordem física como emocional.
Não é uma questão específica da área da saúde, mas é neste setor da sociedade onde deixa as piores marcas – altera a saúde, provoca doenças e causa a morte.

A violência, de maneira geral, tem sido considerada forma de agressividade destrutiva e motivo de preocupação na atualidade tanto pelo aumento de incidência quanto pelo envolvimento cada vez maior de jovens neste processo.
Diferentes fatores são considerados facilitadores ao exercício ou à exacerbação da violência: fatores sócio-econômicos, culturais, características individuais, globalização e mídia. Especificamente no que diz respeito aos meios de comunicação, as pesquisas tem evidenciado que o abuso da violência no entretenimento é fator causal na promoção de atitudes e comportamentos violentos.

Quando se fala em relação a condições que levam o jovem a ser vítima ou praticante de atos violentos deve-se lembrar das substâncias psicoativas, “drogas”, em um termo mais popular.

O adolescente é alvo fácil, pois apresenta características próprias que pode predispor a esse vício tais como a curiosidade, a incapacidade de enfrentar problemas, e a onipotência juvenil. Durante a fase da adolescência o cérebro vai sofrendo uma série de mudanças, ocorrendo uma remodelagem do sistema de recompensa. No início da adolescência há perda transitória da função desse sistema, diminuindo assim a sensação de bem estar com os prazeres antigos, fazendo com que o jovem vá à busca de novas sensações. Procura outros interesses, abandona a segurança do lar, busca novos amigos e parceiros sexuais. Desta forma vem o gosto por situações de risco, que se “pequenas” vão trazer benefícios para a idade adulta. Se os riscos forem excessivos tornam-se perigosos para o adolescente e muitas vezes para os que estão ao seu redor. Esse processo de remodelagem o torna vulnerável para entrada no caminho da drogadição, ou seja, do uso incontrolado da droga.

Todo o adolescente encontra-se em situação de risco. Porém alguns jovens apresentam maior risco do que outros e alguns fatores se mostram positivos para o abuso de drogas:

  1. História familiar positiva de abuso de drogas;
  2. Uso por parte dos pais;
  3. Fracasso ou dificuldades escolares;
  4. Baixa auto-estima;
  5. Personalidade agressiva ou compulsiva;
  6. Alteração da dinâmica familiar;
  7. Influência do grupo;
  8. Ausência de normas e regras claras;
  9. Pouca religiosidade.

Sabe-se que os jovens entram em contato com as drogas, sejam elas lícitas (álcool, tabaco e alguns fármacos) e/ou ilícitas (como cocaína, maconha, êxtase e tantas outras), cada vez mais cedo, e junto dessa peculiaridade une-se a vulnerabilidade cerebral e psicológica a essas substâncias, merecendo, portanto, uma atenção maior tanto por parte da família como da sociedade e das autoridades envolvidas na elaboração de estratégias interdisciplinares de prevenção e combate ao uso abusivo, antes que este se torne um uso dependente.

A progressão do consumo de drogas entre os adolescentes

As pesquisas mostram que habitualmente o consumo de drogas acontece em estágios, iniciando pelo uso de álcool e vinho. No segundo estágio através de bebidas destiladas e o tabaco. A maconha aparece em terceiro lugar. No quarto estágio o consumo de opióides, cocaína e alucinógenos.

Sabe-se, porém, que a porta de entrada para o uso de drogas é motivo de discussão. Anteriormente era atribuída à maconha, atualmente, as pesquisas mostram que a progressão no consumo de drogas se inicia com o uso regular de bebidas destiladas.

Diferente dos adultos que são fiéis à droga de escolha, os jovens são atraídos pelos novos efeitos de cada droga, ou pelos efeitos que a associação destas, pode proporcionar, abusando de diferentes tipos de drogas.

Como caracterizar se um indivíduo faz uso nocivo ou dependente de substâncias psicotrópicas?

De acordo com os critérios do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, o uso abusivo é considerado se nos últimos 12 meses o indivíduo apresentar pelo menos um dos seguintes sintomas:

  1. Diminuição no desempenho escolar, no trabalho ou em casa;
  2. Uso da substância em situação de risco;
  3. Uso contínuo apesar dos problemas sociais ou legais.

A dependência tem como característica o padrão repetido de consumo, levando as perdas e/ou danos ao jovem. O indivíduo dependente deve apresentar nos últimos 12 meses, pelo menos três dos sintomas:

  1. Tolerância (necessidades de doses maiores para obter o mesmo efeito);
  2. Sinais de abstinência;
  3. Uso da substância por tempo maior que o intencionado ou em maiores quantidades;
  4. Tentativas frustradas de parar;
  5. Diminuição das atividades sociais e recreacionais em função do consumo da droga;
  6. Persistência do consumo apesar dos problemas ocasionados.

Existe uma fórmula para tratamento de usuários de drogas?

Não há um tratamento definido para adolescentes usuários de drogas. Porém alguns consensos devem ser levados em conta como o apoio familiar que é de extrema importância. Outro ponto importante é resgatar o mais breve possível, o diálogo entre pais e filhos.

Apesar de não existir um tratamento definido, há certas condutas que se forem utilizadas, irão auxiliar o jovem como:

  1. Abordagem multidisciplinar.
  2. Criação de vínculos e expectativas.
  3. Pesquisa de co-morbidades – A prevalência estimada é de 89% de associação com outro diagnóstico psiquiátrico. Os mais freqüentes são transtornos do humor e de conduta.
  4. Reabilitação bio-psicossocial.
  5. Combinação de abordagens.

De uma forma geral, os tratamentos variam de acordo com a intensidade de ajuda que o jovem necessita tais como:

  1. tratamento hospitalar em regime de internação, seguido de acompanhamento ambulatorial;
  2. tratamento ambulatorial/hospital-dia;
  3. tratamento em comunidades terapêuticas.

Os casos que necessitam de internação são:

  1. risco de comportamento de auto ou hetero – agressão ou comportamento suicida;
  2. risco de desenvolver Síndrome de Abstinência ou outras complicações clínicas;
  3. necessidade de tratamento de outras co-morbidades psiquiátricas;
  4. falha no tratamento ambulatorial.

Sugestão de Sites para pesquisa:
http://www.combateasdrogas.com.br
http://www.diganaoasdrogas.com.br
http://www.alcoolismo.com.br

Relatora: Marisa Lazzer Poit
Vice-presidente do Departamento de Adolescência da SPSP (gestão 2007-2009); Professora do Departamento de Pediatria e Membro da Equipe Médica do Instituto de Hebiatria da Faculdade de Medicina do ABC, Santo André, SP.

Texto recebido em 31/08/2009 e divulgado em 1º/09/2009.