A Pediatria e a assistência médica suplementar

Cerca de 20% da população brasileira possui algum tipo de plano de saúde. Os 80% restantes estão à mercê do atendimento público. Entretanto, os gastos anuais com medicina pública são equivalentes ao montante despendidos com a medicina suplementar. Daí a importância de estarmos ligados, bastante atentos e participativos das discussões de um novo cenário já em andamento no atendimento privado.

O modelo atual não tem foco na medicina preventiva, nem na qualidade e resultados do atendimento. A prevenção de doenças, a promoção da saúde e atendimento integral ao cliente são práticas antigas e rotineiras dos pediatras, mas nunca foram reconhecidas ou valorizadas. Pois bem, é por aí que as mudanças do modelo de atenção à saúde, e não somente às doenças, estão se iniciando. Remunerar todo o tratamento com foco nos melhores resultados, e não apenas a consulta, já é prática corrente e os Procedimentos Padronizados em Pediatria – PPP (veja quadro ao lado), tendo sido talvez a primeira mudança concreta do modelo vigente. Muitas outras estão sendo discutidas em convenções, congressos e palestras de profissionais da área.

Os clientes considerados grandes gastadores, aqueles 10% que consomem 65% de todos os gastos da assistência médica, são alvo de maior atenção dos gestores dos planos de saúde. Para esse grupo de clientes criaram condições gerenciais e de remuneração diferenciadas. Em contrapartida, a Pediatria é sabidamente uma especialidade de baixo custo e de alto retorno para as operadoras. De fato, a faixa etária de 0 a 17 anos subsidia os gastos da última faixa, ou seja, daqueles clientes acima de 60 anos. Diante dessa constatação, fica claro que nós pediatras não somos alvos dos gestores da saúde. Então, quanto menos mexerem nessa questão, menor o risco de novos gastos com a remuneração do trabalho.

É óbvio – e fica muito claro – que só com muita luta, participação coletiva e cobrança teremos chances de mudar esse cenário terrível para os pediatras. São nesses momentos de questionamentos e transformações que aparecem as oportunidades para discussões e proposições inovadoras. Portanto, colegas pediatras, chegou a hora de participar, apoiar nossas entidades representativas, marcar presença e cobrar resultados. As sociedades de especialidades nada podem sem a presença e apoio de seus sócios. As mudanças no velho modelo assistencial virão e a nossa omissão certamente terá um alto custo futuro. Fiquem ligados, participem e não aceitem pouco.

Dr. Mário Lavorato
Diretor de Defesa de Assuntos Profissionais da Sociedade Mineira de Pediatria; Ex-Diretor de Defesa Profissional da SBP; Ex-Coordenador e Preceptor da Clínica Pediátrica do Hospital do Instituto de Previdência dos Servidores Públicos do Estado de Minas Gerais; Conselheiro de Administração da Unimed-BH.

 

Matéria publicada em Pediatra Informe-se Boletim da SPSP Ano XXIII – No 138– março/abril 2008

Assessoria de Imprensa – SPSP