A importância do teste da orelhinha

A importância do teste da orelhinha

Tão logo ocorre o nascimento do bebê, começam os exames diagnósticos: tipagem sanguínea, teste do pezinho, teste da orelhinha e outros. O objetivo é claro: evitar complicações e intervir precocemente caso exista alguma doença.

O sistema auditivo começa sua formação durante o período gestacional, mas apenas após o nascimento e com a exposição aos diferentes sons é que seu amadurecimento acontece. As informações recebidas pela cóclea, parte interna da orelha, são enviadas via nervo auditivo para o córtex auditivo, área do cérebro responsável pela audição.

É nesse local que as bases do sistema sensorial auditivo serão criadas, conferindo à criança a habilidade de compreender e discriminar os sons. Este aprendizado, no entanto, só é possível nos primeiros três anos de vida, período no qual o cérebro infantil possui grande plasticidade e por isso é capaz de formar conexões e caminhos nervosos para o córtex auditivo. Passado esse período, ocorre uma reorganização neural no cérebro e os estímulos sonoros provindos da cóclea não terão meios de atingir o córtex auditivo com a mesma eficiência, deixando o indivíduo incapaz de reconhecer os diferentes sons.

Portanto, não tratar uma perda auditiva precocemente pode implicar prejuízos irreparáveis na audição, além de outras consequências não menos importantes, como distúrbios no desenvolvimento da fala e da linguagem, impactos sociais e emocionais, bem como baixo rendimento escolar e de aprendizagem.

Assim, a Triagem Auditiva Neonatal Universal (TANU), conhecida popularmente como “Teste da Orelhinha”, não poderia ficar de fora dos exames diagnósticos essenciais ao recém-nascido. Estatísticas mundiais apontam que 1 a 3 em cada 1.000 recém-nascidos são diagnosticados com perda auditiva moderada a severa nas maternidades e que esta prevalência aumenta para 2 a 4 em cada 100 bebês nas Unidades de Terapia Intensiva. Com esses dados confirmamos o grande impacto dos distúrbios de audição na população infantil e sua clara necessidade de investigação ao nascimento. No Brasil, a Triagem Auditiva Neonatal é obrigatória por lei em todos os hospitais desde 2010 (Lei Federal no 12.303).

O Teste da Orelhinha é, na realidade, composto por dois exames diferentes. Para bebês sem fatores de risco para perda auditiva, o teste de escolha é denominado Emissões Otoacústicas (EOA). Já nos recém-nascidos com fatores de risco, como histórico familiar de surdez, infecções gestacionais, alterações genéticas e outros, preconiza-se também a realização do Potencial Evocado de Tronco Encefálico (PEATE ou BERA).

Importante ressaltar que ambos os exames são indolores e gratuitos e devem ser realizados dentro dos primeiros 30 dias de vida do bebê, preferencialmente antes da alta da maternidade. Caso apresente alteração, o teste deve ser repetido e, se confirmado qualquer grau de surdez, é de extrema urgência que investigações e tratamentos sejam prontamente iniciados, não ultrapassando os seis meses de idade. Com a identificação precoce da perda auditiva e uma rápida intervenção, é possível proporcionar não apenas uma melhoria na audição e na linguagem, mas também no desenvolvimento global da criança.

 

Relatora:
Renata Christofe Garrafa
Departamento Científico de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo