No dia 19 de fevereiro comemoramos o Dia do Esportista no Brasil. Um dos principais benefícios que as atividades físicas proporcionam na fase da infância e da adolescência, por meio dos esportes, é o estímulo ao desenvolvimento ósseo e neuromuscular. Estudos demonstraram que o simples ato de realizar caminhadas diárias programadas, por duas horas, aumenta a densidade mineral óssea de crianças em idade escolar submetidas ao exercício, quando comparadas a grupo controle. O esporte tem grande importância como forma de incentivo às atividades físicas das crianças e adolescentes, resultando na aprendizagem dos denominados “cinco gestos olímpicos”, por meio dos quais todas as modalidades esportivas serão realizadas. São eles: o correr, o saltar, o pedalar, o arremessar e o nadar.
Além do desenvolvimento físico, as atividades esportivas incrementam a interação social entre as crianças e adolescentes, e a autoestima, auxiliando na prevenção de doenças relacionadas à obesidade, cada vez mais prevalente nessas faixas etárias, além daquelas ligadas ao comportamento e à psique, independentemente da faixa socioeconômica da família.
Orientar a família quanto à introdução do esporte, assim como quanto à prevenção de lesões a ele relacionadas, seja na infância ou adolescência, faz parte da prática clínica. Em cada país existe uma preferência cultural por algumas modalidades, amplamente divulgadas na mídia, influenciando em grande parte essa escolha, como é, no Brasil, o futebol. Pode-se orientar os responsáveis a definir como o melhor esporte aquele que, sendo apresentado aos seus filhos, revele-se como o que eles mais gostaram e se identificaram.
Parece óbvio, mas muitas vezes surgem situações em que os pais insistem em manter as crianças e adolescentes em esportes que não lhes agradam, ou em que não apresentam um bom desempenho, criando uma experiência frustrante para eles, tendo como resultado o abandono e o desincentivo à atividade física em suas rotinas.
A razão para a estratégia da escolha pelo gosto da modalidade é a manutenção do indivíduo na atividade física pelo prazer que esta proporciona, assim como pelas boas lembranças dessa experiência na infância e na adolescência, influindo positivamente na continuidade dessa atividade, auxiliando a manter a saúde física e mental, com menor incidência de doenças. Torna-se, assim, uma questão de saúde pública.
Para as crianças menores, a orientação deve ser baseada em fazer diferentes tipos de esporte, não encorajando a competição e priorizando o desenvolvimento individual. Por essa razão, a prática esportiva deve ter caráter lúdico, apresentada nessa fase da vida como uma brincadeira, sem exigir performance.
Nas competições, as medalhas devem ser distribuídas para todos os participantes, evitando eleger apenas os melhores. É muito comum a criança desistir de uma modalidade pelo seu baixo rendimento, principalmente em esportes coletivos. Esta má experiência psicológica muitas vezes é tão ou mais importante que uma lesão física, denominada “burnout” do atleta mirim. Frequentemente a frustração funciona como desestímulo a qualquer outra atividade física futura, mesmo na idade adulta.
Quanto à escolha do esporte, temos que levar em conta a idade. Entre 2-5 anos de idade, a habilidade motora é limitada, com as reações de equilíbrio ainda não definidas, dificuldade para atenção seletiva, sendo o aprendizado egocêntrico, por erros e acertos. Quanto à visão, a criança é inábil para acompanhar objetos em movimento e avaliar velocidades. Deve-se enfatizar as habilidades fundamentais, as instruções simples e o aspecto lúdico, com treinos em circuitos de atividades, sob supervisão adequada.
Na prática, as escolas de esportes são bem indicadas entre 4-6 anos de idade, por apresentarem muitas modalidades esportivas à criança, até que esta, no futuro, acabe se adaptando melhor a uma modalidade específica. A natação pode ser iniciada antes do primeiro ano de vida, para adaptar a criança ao meio líquido, mas sem a pretensão de que ela consiga, nessa fase, evitar o afogamento. Na média da população, a criança só terá capacidade neurológica e motora para nadar sem auxílio a partir dos 4 anos de vida, sempre com supervisão de adultos.
Entre 6-9 anos de idade ocorre a melhora do equilíbrio e das reações automáticas. Quanto ao aprendizado de regras, pode haver dificuldade de atenção, com o início do desenvolvimento da memória, ainda com limitação para decisões rápidas na prática esportiva. A visão melhora, com capacidade para acompanhar objetos móveis, mas com alguma dificuldade no direcionamento. Os esportes praticados com regras flexíveis são mais bem aceitos, o que permite sua prática no tempo livre das crianças, com poucas instruções e o mínimo de competição. Começam a ser indicadas as escolinhas de futebol, esportes de quadra, judô e natação.
Entre 10-12 anos, a habilidade motora melhora, com o aumento da capacidade de atenção seletiva e do uso da memória para estratégia em jogos, apesar de certa dificuldade de equilíbrio, relacionada ao crescimento rápido da puberdade. Com a visão no padrão adulto, pode-se enfatizar o desenvolvimento de habilidades, táticas e estratégias em grupos com maturação similar em praticamente todos os esportes coletivos de quadra, tênis, artes marciais e demais modalidades. Nessa fase, o esporte preferido é escolhido pelo adolescente, geralmente de acordo com seu gosto e sua performance.
O esporte faz bem à saúde, mas existe uma linha-limite. Estudos têm como premissa que atividades esportivas intensas acima de 16 horas por semana aumentam a incidência de lesões. De acordo com a orientação dada pela American Academy of Sports Medicine, os atletas em crescimento devem praticar uma modalidade esportiva (evitar fazer vários esportes), com frequência de 3 treinos semanais, acrescidos de um dia de competição, devendo haver intervalo de 1 dia entre os treinos para a recuperação física. Muitas crianças exageram no número de dias e de modalidades praticadas. A soma das atividades agendadas também pode ser no total de três vezes por semana, diminuindo assim a frequência das lesões por sobreúso, como as fraturas de estresse. A natação pode ser acrescida à parte deste cálculo, desde que não seja competitiva.
A educação alimentar da criança no contexto do esporte competitivo, ou do tratamento da obesidade por meio de modalidades esportivas, pode ser acompanhada por nutricionista, objetivando a prevenção de patologias futuras.
A força muscular na infância aumenta com a ativação das unidades motoras (motoneurônio e fibra muscular), as quais são recrutadas pelo organismo à medida que ocorre o estímulo para isso. Na adolescência, a força deve aumentar devido à atuação dos hormônios sexuais, sendo a principal época de hipertrofia muscular e óssea no sexo feminino.
Os exercícios para desenvolvimento da força devem ser realizados utilizando o próprio peso corporal. Seria ideal individualizar as crianças, principalmente as iniciantes, as portadoras de obesidade ou outras enfermidades, determinando sua capacidade aeróbica e necessidade de alongamentos musculares específicos.
Enfim, a prática esportiva auxilia no desenvolvimento físico, mental e social das crianças e adolescentes, melhorando a sua saúde, até mesmo na fase adulta.
Relator:
Nei Botter Montenegro
Vice-Presidente do Departamento Científico de Ortopedia da Sociedade de Pediatria de São Paulo