Este dia, celebrado em 21 de setembro, é uma data essencial para a conscientização e mobilização social em torno dos direitos e inclusão das pessoas com deficiência. Instituído oficialmente pela Lei nº 11.133, de 14 de julho de 2005, visa promover reflexões e ações que garantam a inclusão plena, a acessibilidade e o respeito aos direitos humanos, construindo uma sociedade mais justa e igualitária. No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 18,6% da população vive com alguma deficiência (2022).
Um ponto crítico, frequentemente subestimado nas discussões sobre deficiência, é a prevalência das chamadas “deficiências invisíveis”. Estima-se que mais de 70% das deficiências não sejam imediatamente visíveis, como deficiências cognitivas, psicossociais, auditivas e algumas condições crônicas de saúde. Essas deficiências, apesar de não serem perceptíveis à primeira vista, afetam significativamente a vida diária das pessoas, limitando suas oportunidades de estudo, trabalho e participação social. A deficiência pode ser congênita, ou seja, presente desde o nascimento, mas também há aquelas que acontecem ao longo da vida, algo a que estamos todos sujeitos. O próprio processo do envelhecimento muda a forma de nos locomovermos, enxergarmos, ouvirmos e nos adaptarmos ao ambiente. Falar sobre deficiência, portanto, é falar sobre todos nós. Mesmo assim, o “capacitismo”, preconceito contra pessoas com deficiência, ainda é pouco debatido, sendo por vezes sutil e despercebido.
Entretanto, possuir deficiência nada tem a ver com doença ou falta de saúde, mas sim à relação daquele indivíduo e seu corpo com o ambiente. Quanto maiores os entraves para interação e acesso, menor a possibilidade de um indivíduo com determinada deficiência ocupar determinados espaços. Estaria, então, o problema no ambiente ou no indivíduo?
Esses dados reforçam a necessidade urgente de políticas públicas eficazes e inclusivas, que abordem as deficiências visíveis e as invisíveis. A inclusão escolar é uma área onde os desafios são evidentes, mas as oportunidades para promover uma sociedade mais justa e inclusiva são ainda maiores. Pesquisas recentes demonstram que a presença de crianças com deficiência em salas de aula regulares não prejudica o desempenho acadêmico de seus colegas sem deficiência e oferece benefícios significativos para todos os estudantes.
Um estudo publicado no International Journal of Inclusive Education mostrou que ambientes inclusivos, ao incorporarem métodos de ensino mais diversificados, promovem uma maior empatia, colaboração e respeito à diversidade entre os alunos. Esses ambientes melhoram a convivência e o desenvolvimento social, mas também incentivam a criatividade e a resolução de problemas de maneira colaborativa.
Segundo um relatório do World Economic Forum, as habilidades que se esperam dos líderes do futuro são aquelas ligadas principalmente aos aspectos socioemocionais. Os profissionais buscados pelas empresas hoje, e nos próximos dez anos, segundo o relatório, são os que possuem pensamento criativo, resiliência, empatia, flexibilidade, autopercepção, liderança e influência social positiva, escuta ativa, entre outras. O desenvolvimento infantojuvenil que ocorre num ambiente inclusivo de forma contínua é uma forma potente de sedimentar essas e outras características socioemocionais, as tais soft skills, que o mercado de trabalho busca.
Estudos comprovam que crianças capazes de enxergar melhor as diferenças de forma natural crescem com menos preconceito e maior capacidade de responder às necessidades dos outros. Isso gera também maior autoestima e sensação de pertencimento. Podemos também entender esses benefícios como essenciais no combate ao bullying e cyberbullying dentro do ambiente escolar, um dos maiores desafios da atualidade quando falamos sobre saúde mental de crianças e adolescentes.
Empresas que adotam práticas inclusivas e contratam pessoas com deficiência relatam não apenas benefícios sociais, mas também um aumento na inovação e na produtividade, resultando em ambientes de trabalho mais ricos e diversos. Portanto, promover a inclusão nas escolas é investir no futuro de uma força de trabalho mais diversificada, inclusiva e eficaz, que é essencial para o crescimento econômico e social sustentável.
A construção de uma sociedade inclusiva passa pelo necessário engajamento de todos os setores da sociedade, públicos e privados. A transformação deve partir de uma mudança do olhar de todos que convivem e orientam aqueles que têm deficiência e suas famílias.
Esse trabalho contínuo pela inclusão estende-se dentro dos ambientes escolares, através da capacitação de professores e de todos os funcionários. O mesmo vale para empresas e mercado de trabalho, por meio de um esforço conjunto que supere as barreiras que ainda impedem a plena participação das pessoas com deficiência em todos os aspectos da vida social, econômica e cultural.
Neste Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, é fundamental que renovemos nosso compromisso com a inclusão e o respeito à diversidade. Este é um chamado para todos nós sermos agentes de mudança, promovendo um ambiente onde todas as pessoas, independentemente de suas habilidades, possam viver e prosperar.
Relatoras:
Anna Dominguez Bohn
Carolina Videira
Núcleo de Estudos sobre a Criança e o Adolescente com Deficiência da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Saiba mais:
- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde 2019. Disponível em: [IBGE](https://www.ibge.gov.br).
- Smith J & Jones L. Inclusive education and its effects on students without disabilities: a systematic review. International Journal of Inclusive Education. 2020;24(8):881-899.