Em 17 de outubro celebramos o Dia Nacional da Vacinação. A vacinação é uma das conquistas mais significativas da medicina moderna, tendo desempenhado um papel fundamental na redução das mortes e sequelas graves causadas por diversas doenças infecciosas ao longo da história. No Brasil, a vacinação é uma prática amplamente consolidada, e o país tem uma longa trajetória de sucessos na imunização de sua população. No entanto, é importante compreender que, apesar desses avanços, a manutenção de altas taxas de cobertura vacinal é crucial para evitar a reintrodução de doenças anteriormente controladas.
Os sucessos da vacinação no Brasil – nosso país tem uma história de sucesso na área de vacinação que remonta a séculos. Desde o período colonial, quando os povos indígenas utilizavam práticas de imunização, até os dias atuais, o país avançou significativamente na prevenção de doenças por meio da vacinação.
Um dos maiores marcos na história da vacinação no Brasil foi a erradicação da varíola em 1973. Esse feito histórico só foi possível devido à intensa campanha de vacinação em massa e à cooperação de diversos órgãos de saúde. A vitória sobre a varíola demonstrou a eficácia das campanhas de vacinação e incentivou o país a continuar investindo na imunização. Outro grande sucesso da vacinação no Brasil foi a eliminação da poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, em 1989. Esse êxito foi alcançado como consequência de uma série de campanhas de vacinação, que visaram à imunização de todas as crianças brasileiras. Graças a esses esforços, atualmente o Brasil é considerado um país livre da poliomielite.
Além disso, a vacinação é fundamental no controle de diversas doenças, como o sarampo, a rubéola, a caxumba, a hepatite B e a febre amarela. Essas doenças, que já foram responsáveis por grandes epidemias no passado, agora estão sob controle em nosso país devido à vacinação regular da população.
O risco de reintrodução de doenças em cenários de baixas coberturas vacinais.
Apesar dos sucessos alcançados, o Brasil enfrenta desafios significativos relacionados à vacinação, e um dos principais é o risco de reintrodução de doenças em cenários de baixas coberturas vacinais. Um dos principais fatores que podem levar à queda nas taxas de vacinação é a disseminação de informações incorretas e a hesitação vacinal. Nos últimos anos, tem havido um aumento no movimento antivacina, que propaga a desinformação sobre os riscos das vacinas. Isso cria um ambiente propício para a queda nas coberturas vacinais, colocando em risco a imunidade coletiva da população.
Este conceito, também conhecido como imunidade de rebanho ou proteção indireta, é crucial na prevenção de doenças infecciosas em níveis nacional e regional. Ela ocorre quando uma porcentagem suficientemente alta da população é vacinada, tornando mais difícil para o agente infeccioso se disseminar na população. Quando as coberturas vacinais caem, a imunidade coletiva é comprometida, e gera um cenário propicio para a reintrodução de doenças anteriormente controladas.
Um exemplo recente disso foi o aumento nos casos de sarampo no Brasil em 2018, quando o país enfrentou um surto da doença devido à queda nas taxas de vacinação da vacina tríplice viral. O vírus foi reintroduzido a partir de viajantes provenientes da Europa e se espalhou rapidamente em nosso país, afetando principalmente crianças muito jovens e não vacinadas. Esse episódio ilustrou, de forma real e preocupante, a importância de manter as coberturas vacinais elevadas para evitar surtos de doenças evitáveis por vacinação.
Além disso, a pandemia de covid-19 trouxe novos desafios para a vacinação no Brasil. A campanha de vacinação contra o coronavírus se tornou uma prioridade, mas também desviou a atenção de outras vacinas importantes. É essencial garantir que as vacinações de rotina não sejam negligenciadas em meio a futuras pandemias.
O Programa Nacional de Imunizações brasileiro – em 2023 o Brasil celebra com orgulho os 70 anos do Programa Nacional de Imunizações (PNI), um marco na saúde pública do país. Desde sua criação, em 1953, o PNI tem desempenhado um papel crucial na prevenção de doenças e na promoção da qualidade de vida dos brasileiros. O PNI nasceu com a missão de controlar a disseminação de doenças como a varíola, e ao longo dos anos expandiu sua atuação para incluir uma ampla gama de vacinas, protegendo a população contra doenças como poliomielite, sarampo, rubéola, febre amarela e muitas outras. Graças aos esforços incansáveis de profissionais de saúde, o PNI ajudou a erradicar doenças no Brasil e controlar surtos de diversas enfermidades.
Além disso, o PNI tem desempenhado um papel fundamental na resposta a emergências de saúde pública, como a pandemia de covid-19. O programa liderou a campanha de vacinação contra o coronavírus, demonstrando sua capacidade de adaptação e eficiência. Entretanto, o sucesso do PNI não seria possível sem o comprometimento de profissionais da área da saúde, cientistas e gestores, nem sem o apoio da população brasileira. A confiança nas vacinas e a adesão às campanhas de imunização têm sido essenciais para a proteção coletiva.
O Brasil possui um sistema de saúde robusto e uma longa tradição de vacinação, e deve continuar a investir na promoção da imunização como uma das principais estratégias de prevenção de doenças. Garantir o acesso equitativo às vacinas, manter as taxas de cobertura vacinal em níveis adequados, disseminar informações precisas e conscientizar a população sobre a importância da vacinação são os pilares para manter os sucessos alcançados e são considerados passos cruciais para o enfrentamento dos desafios atuais relacionados à hesitação vacinal e à desinformação.
À medida que o PNI completa 70 anos, é uma oportunidade para celebrar suas conquistas e reafirmar o compromisso com a saúde pública no Brasil. A imunização continua sendo uma ferramenta poderosa na prevenção de doenças, e o PNI continuará a desempenhar um papel vital no bem-estar e promoção da saúde à população brasileira nas próximas décadas.
Relator:
Daniel Jarovsky
Secretário do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo