A criança rouca: disfonia na infância

A criança rouca: disfonia na infância

A disfonia, ou rouquidão, é um distúrbio vocal, dificuldade ou alteração na emissão da voz (fonação) e está presente na maioria das afecções da laringe, onde estão as pregas vocais. A laringe, além da fonação, conduz o ar que respiramos para o pulmão e atua como um “cão de guarda”, protegendo as vias respiratórias inferiores através da tosse. Se a rouquidão persistir mais do que 14 dias é sinal de alerta e o paciente deverá ser avaliado pelo pediatra que, se julgar necessário, encaminhará para o otorrinolaringologista pediátrico.

A rouquidão pode estar acompanhada de tosse, estridor ou chiado, desconforto respiratório e engasgos nos quadros mais graves, com movimentação (batimento) das asas do nariz e palidez cutânea, os quais são sinais de alarme. Assim, a disfonia deve ser abordada pelo otorrinolaringologista com o compromisso de explorá-la através da anamnese, do exame físico e do exame endoscópico, que permite a visualização da laringe. O exame da nasofibrolaringoscopia, realizado pelo otorrinolaringologista, auxiliará no diagnóstico diferencial das possíveis alterações a serem encontradas nas pregas vocais e que estejam causando a rouquidão. Em algumas situações, outros exames complementares, como exames laboratoriais e/ou de imagem tornam-se relevantes na investigação da causa da disfonia e associações com outras doenças.

Importante frisar que não é correto, por parte do médico especialista, justificar a rouquidão como algo que vai melhorar com o crescimento do paciente, ou após a adolescência, ou que esteja ocorrendo pelo uso errado da voz. É necessário saber a causa. A disfonia pode estar presente desde o nascimento até a vida adulta e são múltiplas as causas, sendo as mais frequentes:

  • Ao nascimento: laringomalácia (alteração congênita que se caracteriza pelo amolecimento das estruturas da laringe, que caem sobre a abertura das vias aéreas e a bloqueiam parcialmente, e sua manifestação característica é o estridor [ruído] inspiratório intermitente), malformações congênitas (vasculares, tumorais, cistos, atresia – condição na qual um órgão ou orifício do corpo está ausente ou anormalmente fechado), paralisia laríngea;
  • Na infância: laringites agudas (inflamatória, infecciosa, sendo a maioria causada por vírus), abuso vocal, com formação do nódulo vocal, o famoso “calo vocal”;
  • Na adolescência: nódulo vocal, muda vocal (“oitavando a voz”), que é uma disfunção da fonação durante o crescimento da laringe;
  • E ainda: pólipos, cistos, alterações relacionadas com doenças autoimunes e, também, estenoses (estreitamentos) laríngeas pós-intubação endotraqueal.

Inicialmente, o importante é tratar a causa da disfonia. Muitas vezes demanda tempo e dedicação dos profissionais envolvidos no diagnóstico e na conduta. Todas essas afecções são passíveis de tratamento, muitas vezes em conjunto com a Fonoaudiologia. A abordagem na criança é a mais conservadora possível. O tratamento cirúrgico é raro e fica reservado para os casos em que a disfonia prejudica a criança; sendo importante associar com fonoterapia. O fonoaudiólogo é o terapeuta responsável pela reabilitação da voz e contribui para introduzir novos padrões e hábitos vocais saudáveis.

A família deve ajudar a criança a dar continuidade na terapia de fala e facilitar novos hábitos vocais. Isso aumenta a eficácia do tratamento. A qualidade da voz é importante na vida social, na capacidade de comunicação e no desenvolvimento das relações sociais.

 

Relatora:
Janaina Carneiro de Resende
Departamento Científico de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo