A vida acontece no gerúndio, diria a vovó!
Vou estar explicando! Ops!! Perdão, isso é um exemplo de “gerundismo”, do mau uso do gerúndio. Devemos esse modismo, provavelmente, aos que trabalham em telemarketing, que incorporaram em nossa gramática uma construção da língua inglesa.
Explico, então…
Gerúndio é uma das formas nominais do verbo. É formado pelo sufixo NDO, como em acontecendo. Deve ser usado quando se quer expressar uma ideia ou ação que ocorre no momento. Se já aconteceu é passado. Se acontecerá é futuro. Quando estiver acontecendo, o futuro vira presente.
A vida é assim. No momento ela existe; ontem foi, amanhã ainda não é. A vida é feita de muitos presentes que se sucedem. E qual é o problema? É você não viver o presente – aquele momento único que não volta, nem se repete. Por isso, no corre-corre da vida, corremos o risco de não vivê-la em plenitude e em qualidade.
Isso é muito mais dramático quando pensamos na criação de filhos. Essas “criaturas” crescem, desenvolvem-se, impulsionadas pela própria genética, com um jeito peculiar e único, influenciadas pelo ambiente, pela família, pela oferta de alimentos e estímulos, pelas oportunidades de vivenciarem cenários de aprendizagem e criatividade. O fato é que eles vão crescendo sem pedir licença à vida. O crescimento e desenvolvimento das crianças se dá num grande gerúndio existencial, não como um acontecimento sem fim, mas que se dá no agora.
É preciso viver a vida no presente, especialmente com os filhos. Não é possível rebobinar esse filme.
Dia dos filhos parece ser todos os dias na perspectiva dos pais, pois eles não deixam de nos alegrar, de nos preocupar e exaurir. Dicotomia, lindamente expressa pelo nosso “poetinha”*. Parece que vivemos em função deles e trabalhamos para dar-lhes o melhor. Há verdade nesse pensamento! Entretanto, não podemos confundir algumas coisas: ao nos tornarmos pai e mãe assumimos uma responsabilidade inerente à paternidade/maternidade, a de prover cuidado, diversão, proteção, zelo, educação, afeto, entre outros. Não cumprir ou fugir desse compromisso é, objetivamente, cometer um erro. O outro lado da moeda é o que os filhos esperam dos pais: a presença, o “tempo com”, o estar junto, quando estiverem juntos. Esse tempo não é, necessariamente, medido em minutos. Mede-se pela intensidade e pela entrega.
“Filhos, filhos? / Melhor não tê-los! / Mas se não os temos / como sabê-los? (…) Porém, que coisa/ Que coisa louca/ Que coisa linda/ Que os filhos são!”*
No Dia dos Filhos, um lembrete da vovó para os pais: é tempo de viver (no gerúndio) com eles.
“Aprendemos a ser filhos depois que somos pais. Só aprendemos a ser pais depois que somos avós”.**
* Poema Enjoadinho. Vinicius de Moraes
**Antes que eles cresçam. Affonso Romano de Sant’Anna
Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP
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