Com a comemoração do Dia Nacional de Controle da Asma, fico aqui intrigada e me questionando por que ainda existem tantas crianças sem tratamento e acompanhamento adequados.
A Medicina caminha para a medicina personalizada, onde o uso de medicamentos e tratamentos deve ser o mais individualizado possível.
É impossível desprezar os avanços que a ciência trouxe no sentido dos benefícios de um bom controle da asma e os desfechos positivos que isso traz. Para tanto, é necessário um ajuste e acompanhamento de perto, com consultas regulares mesmo quando o paciente está bem, e não somente no momento de crise. Além disso, é necessária muita conversa, para que os responsáveis pela criança, e a própria criança e o adolescente, entendam que por se tratar de uma doença crônica, o tratamento não leva à cura, mas leva ao controle da doença.
Esse controle na maioria das vezes não é algo fixo, pois a intensidade e a gravidade da doença oscilam ao longo dos meses do ano (por exemplo, para muitos piora na sazonalidade dos vírus respiratórios), assim como oscilam ao longo dos anos da vida do paciente.
Nessa linha de raciocínio, os médicos tentarão obter o máximo de controle possível (para evitar sequelas e perda de função pulmonar, que pode ser irreversível na vida adulta), com o mínimo de medicamentos possível. Essa balança pode ser mais difícil de se alcançar em situações de doença de maior gravidade, onde provavelmente o paciente com asma necessitará de mais associações de medicamentos e eventualmente de doses maiores desses medicamentos apelidados de “controladores” da asma.
Além do controle medicamentoso existem outros pilares muito importantes, como manter um padrão de vida saudável, com atividades físicas regulares, evitar ao máximo sobrepeso e obesidade, que agravam muito a asma, alimentação saudável, adequado padrão de sono, manter carteira de vacinação em dia, e para o asmático de qualquer faixa etária, isso inclui a vacina contra gripe anual e uma vida social compatível com a faixa etária.
O controle de doenças coexistentes também é muito importante, em especial enfatizo aqui o controle da rinite, que muitas vezes é negligenciada. Sem adequado controle dos sintomas das vias aéreas superiores fica impossível alcançar um controle adequado da asma. Por isso, muitas vezes o tratamento da rinite vem associado. Além disso, deve-se evitar a exposição aos fatores irritantes e aos alérgenos a que sabidamente o paciente tem alergia; então, muitas vezes são necessárias algumas mudanças e adaptações da casa e principalmente do quarto onde o paciente dorme. Como por exemplo, evitar mofo, umidade, corrigir e consertar eventuais infiltrações, ponderar o uso de capas antiácaros em colchões e travesseiros, evitar perfumes, cheiros fortes em produtos de higiene pessoal, assim como de produtos de limpeza, etc.
Para os pré-adolescentes e adolescentes é muito importante falar abertamente sobre o malefício de todas as formas de cigarro, tabaco inalado, vapers, cigarros eletrônicos, narguilé, etc. Assim como o malefício do tabagismo passivo também, o que pode ser um assunto delicado com os jovens que têm tantos amigos usuários de dispositivos eletrônicos de consumo de nicotina, por exemplo.
O tratamento da asma tem que ser pautado naquilo que a Ciência mostra ser eficaz. Na minha rotina, vejo muitas crianças sendo expostas a inúmeros tratamentos sem necessidade e sem comprovação científica, na tentativa de evitar um tratamento que a ciência há muitas décadas já mostrou que é eficaz no controle da asma. É triste ver tantas crianças com dietas restritas (por exemplo, retirada total de leite e derivados) sem de fato terem alergia ao leite, ou seja, sem necessidade de passar por essa privação.
No Brasil, hoje em dia, temos disponível pelo SUS, na Farmácia Popular, os principais pilares do tratamento da asma. Inclusive com medicamentos em dosagens apropriadas para o uso em crianças pequenas.
Diante deste cenário é imperativo que os responsáveis conversem de forma aberta com seus pediatras, para que as crianças e os adolescentes tenham um seguimento adequado da sua asma e alcancem o melhor controle possível, de forma a estarem aptos a gozar da infância e juventude da forma mais saudável possível, e sempre que possível mantendo a prática esportiva regular, que é um dos pilares do tratamento da asma.
Relatora:
Mariana Buarque de Almeida
Presidente do Departamento Científico de Pneumologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo