“Eu sou porque nós somos, mas também somos porque cada um de nós é.”
É pelo diálogo que descobrimos como relacionar a história da comunidade e a do indivíduo. Ninguém constrói uma história sozinho: sempre há mais alguém nela inserido. Nenhum grupo é um ente abstrato isolado: ele existe e age na dependência de seus integrantes. Enfim, é através do ‘Nós’ que nos acolhe, que aprendemos a reconhecer o ‘Eu’ que nos define.
Desde pequenos temos necessidade de pertencimento. Precisamos da família, dos amigos da escola, dos diversos grupos nos quais nos engajamos – por afinidades e objetivos. No decorrer dessas vivências percebemos que somos várias “personas”, desempenhando diversos papéis sociais.
Ao discriminar, exercemos um julgamento peremptório de caracterização, determinando que o mundo se reparta em duas partes: nós e os outros (ou o outro). Pode haver, veladamente, nesse julgamento uma condenação, também, que qualifica o lado oposto pela sua qualia, o seu valor. Criam-se, então, dois universos opostos: Nós e eles; o correto e o errado; o belo e o feio; o inteligente e o burro; o vencedor e o perdedor; o útil e o descartável; o normal e a aberração, o que deve ser e o intolerável.
“Eu contra o meu irmão, o meu irmão e eu contra o meu primo, o meu primo, o meu irmão e eu, contra o mundo”. Provérbio árabe.
Esse caminho discriminatório sempre acaba em tragédia, não conduz à vida, mas à morte. Para quem é discriminado, essa nuvem sombria é facilmente apercebida, para o discriminador, essa face nebulosa é mais velada e insidiosa, mas a autossuficiência e o poder que esse arbítrio confere vão, aos poucos, minando a consciência e enrijecendo o caráter, impedindo que desenvolva outras compreensões sobre a vida.
A vida é diversidade. A complexidade é diversidade. A diversidade é humildemente criativa. A discriminação é entrópica e fria, arrogantemente destruidora. Os discriminadores julgam-se donos de toda a verdade. Os discriminados tentam suportar com resiliência.
Ao longo dos últimos 2.000 anos no mundo ocidental, a questão da discriminação evoluiu significativamente, refletindo mudanças sociais, políticas, culturais e legais. Essa evolução reflete uma jornada que é complexa e precisa ser contínua em direção a uma sociedade mais justa, igualitária e inclusiva.
O século XX testemunhou avanços significativos na luta contra a discriminação, incluindo o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, o movimento sufragista, o fim do apartheid na África do Sul e a luta contra o colonialismo. Leis antidiscriminatórias foram promulgadas em muitos países, visando proteger os direitos das minorias e promover a igualdade de oportunidades.
No século XXI, nos últimos anos, houve um aumento da conscientização sobre questões de discriminação, incluindo racismo, sexismo, homofobia, transfobia e discriminação religiosa. Movimentos sociais como #BlackLivesMatter e #MeToo trouxeram essas questões para o centro do debate público, pressionando por mudanças legislativas, políticas e culturais mais profundas.
Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP