A vulnerabilidade das crianças à exposição ambiental é muito grande, e pode começar antes mesmo do nascimento. Estudos mostram associação da poluição com prematuridade, restrição de crescimento intrauterino e baixo peso ao nascer.
As crianças em crescimento requerem proporcionalmente mais ar, mais água e mais comida do que os adultos. Além disso, as crianças interagem mais com o meio ambiente que os adultos, passam mais tempo no chão, onde a concentração de poluentes pode ser maior. Até mesmo o leite materno, que é o alimento ideal para os bebês, pode ser fonte de exposição inadequada, por isso é importante que a mãe que amamenta também evite exposição aos poluentes.
O impacto da poluição ambiental na infância traz à tona uma questão não só de saúde pública, mas também de iniquidade socioeconômica, já que pobreza e má nutrição irão magnificar os efeitos deletérios da exposição ambiental. Além de uma preocupação universal, já que poluição atmosférica e aquecimento global são coisas intimamente relacionadas, por aumento dos incêndios florestais, aumento de gases tóxicos atmosféricos como ozônio, influência na distribuição, quantidade e qualidade dos aeroalérgenos, determinando piora do controle dos pacientes com condições crônicas como alergias e asma.
Inúmeros estudos apontam para a íntima relação entre piora da qualidade do ar e aumento da morbidade respiratória, com impacto negativo em várias doenças prevalentes na infância, como bronquiolite, asma e pneumonias.
Um relato que ganhou grande divulgação na imprensa foi o da pequena Ella, paciente que tinha asma. Em outubro de 2021, a mãe de Ella, a sra. Rosamund Adoo-Kissi-Debrah falou no TED Talk sobre a tragédia que ocorreu em sua vida, relatando a morte de sua filha por crise de asma, e que a morte de Ella foi por insuficiência respiratória aguda, asma e exposição à poluição do ar. O caso de Ella foi revisado por cientistas experientes e foi o primeiro caso no mundo em que o diagnóstico de poluição do ar esteve listado entre as causas de morte no atestado de óbito.
Como sociedade é importante estarmos atentos aos fatores potencialmente modificáveis, auxiliar os órgãos governamentais na dura e árdua empreitada da redução da poluição atmosférica, mas é também essencial minimizarmos sempre que possível a exposição dentro dos lares, desde evitar o uso de lenha e carvão para cocção de alimentos, assim como evitar toda e qualquer forma de tabagismo intradomiciliar, incluindo os novos dispositivos de cigarro eletrônico tipo vappers, jull e pods.
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Relatora:
Marina Buarque de Almeida
Departamento de Pneumologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Foto: AndrewLozovyi I depositphotos