Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 04/03/2022
As taxas de obesidade quase triplicaram desde 1975 e aumentaram quase cinco vezes em crianças e adolescentes, afetando pessoas de todas as idades de todos os grupos sociais em países desenvolvidos e em desenvolvimento. A obesidade é um dos principais fatores de risco para várias doenças não transmissíveis, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão e acidente vascular cerebral e várias formas de câncer.
Os principais fatos da obesidade, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) são:
– A obesidade mundial quase triplicou desde 1975;
– 800 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com obesidade;
– As consequências médicas da obesidade custarão mais de US$ 1 trilhão até 2025;
– Globalmente há mais pessoas obesas do que abaixo do peso – isso ocorre em todas as regiões, exceto partes da África Subsaariana e Ásia;
– A maioria da população mundial vive em países onde o sobrepeso e a obesidade matam mais pessoas do que o baixo peso;
– Pessoas que vivem com obesidade têm duas vezes mais chances de serem hospitalizadas se testarem positivo para Covid-19;
– 39 milhões de crianças menores de 5 anos estavam acima do peso ou obesas em 2020;
– Espera-se que a obesidade infantil aumente 60% na próxima década, chegando a 250 milhões em 2030.
E aqui no Brasil?
Segundo dados do Ministério da Saúde, de 2019, a estimativa é que 6,4 milhões de crianças tenham excesso de peso no Brasil e 3,1 milhões já evoluíram para obesidade.
A doença afeta 13,2% das crianças entre 5 e 9 anos acompanhadas no Sistema Único de Saúde (SUS), do Ministério da Saúde, e pode trazer consequências preocupantes ao longo da vida. Nessa faixa-etária, 28% das crianças apresentam excesso de peso e, entre os menores de 5 anos, o índice de sobrepeso é de 14,8, sendo 7% já apresentam obesidade.
E o principal fato é que a obesidade é evitável!
A causa fundamental da obesidade e do sobrepeso é um desequilíbrio energético entre o que é consumido e o que é gasto.
E o que aconteceu a nível global nas últimas décadas?
Aumento da ingestão de alimentos densos em energia que são ricos em gordura e açúcares; aumento do sedentarismo, mudança nos modos de transporte e crescente urbanização.
As mudanças nos padrões alimentares e de atividade física são muitas vezes o resultado de mudanças ambientais e sociais associadas ao desenvolvimento e à falta de políticas de apoio em setores como saúde, agricultura, transporte, planejamento urbano, meio ambiente, processamento de alimentos, distribuição, marketing e educação.
Diante desse contexto a Sociedade de Pediatria de São Paulo promoveu a Campanha Setembro Laranja – Combate à Obesidade Infantil, com objetivo de divulgar o problema, desenvolver e implementar ações de promoção de hábitos e práticas alimentares saudáveis, estimular a atividade física, visando a melhoria da qualidade de vida das crianças, suas famílias e as comunidades nas quais estão inseridas.
Destacamos nesta campanha o documento: ENFRENTANDO A OBESIDADE INFANTIL – SETEMBRO LARANJA SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE SÃO PAULO, de setembro de 2018, que destaca as principais estratégias de combate e prevenção da obesidade entre nossas crianças e adolescentes. São elas:
- Consulta pediátrica no pré-natal a partir da 32a semana de gestação, com orientação nutricional materna e controle do ganho de peso corporal;
- Aleitamento Materno – esforços para promover aleitamento materno e mantê-lo, segundo a OMS, exclusivo até o sexto mês de vida e complementado até 2 anos ou mais;
- Introdução de Alimentação Complementar: ao redor do sexto mês de vida, evitar sucos, preferir frutas in natura, evitar adição de açúcar (sacarose, frutose e glicose) nos alimentos, alimentos devem ter baixo teor de açúcar, sal e gorduras, evitar alimentos industrializados, avaliar a alimentação da família e incentivar a leitura das informações dos rótulos dos produtos industrializados para o prévio conhecimento do produto a ser adquirido;
- Leite de vaca e de outros mamíferos sem modificações e extratos vegetais não são recomendados durante os primeiros anos de vida;
- Acompanhamento pediátrico é essencial no atendimento ambulatorial das crianças e dos adolescentes e orientação preventiva;
- Inventário da rotina da criança e do adolescente, horário do sono, tempo de tela e tipo de atividades na tela, saber como é o dia alimentar: horários, dieta habitual (qualidade e quantidade); refeições e lanches fora de casa, ambiente das refeições, atividades sociais: escola, atividades físicas, amigos e atividades de lazer, situações de prazer: comer, tela, sono, passeio, atividades físicas e ambiente emocional;
- Diagnóstico precoce de condições e situações que possam agravar e desencadear obesidade;
- Presença de fatores de risco para obesidade: aumento do IMC, mudança de canais percentuais, risco de sobrepeso;
- Fatores associados à obesidade infantil: dieta, escolhas alimentares, ambiente familiar obesogênico, atividade física, sono, tempo de tela/sedentarismo, fatores genéticos e epigenéticos, etnia, adiposidade materna, baixo peso ao nascer, rebote de adiposidade (elevação precoce dos índices de adiposidade como ocorre em determinadas patologias, por exemplo, nas leucemias), doença endócrina, síndromes genéticas, medicações, baixo nível socioeconômico, residência urbana;
- Alimentação: bons hábitos nutricionais e formação de um comportamento alimentar saudável desde tenra idade, comportamento do cuidador, hábitos da família – a prevenção da obesidade começa pela base familiar;
- Família: percepção de que a relação da criança e da família com a alimentação está incorrendo em um padrão que leva a obesidade e atuação nos primeiros meses de vida da criança e quando já partilha das refeições ou dos alimentos com os demais familiares;
- Atividade física O sedentarismo é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral em adultos, para obesidade, elevação da pressão arterial, diabetes mellitus tipo 2 e redução do HDL-colesterol, daí que a atividade física está entre as principais medidas preventivas;
- Boa qualidade de sono contribui para a memória, imunidade, crescimento e também na manutenção do peso.
- Políticas públicas para a prevenção da obesidade;
- Publicidade e ações governamentais: a solução, ainda que resulte parcial, da obesidade só poderá se concretizar se abranger todos os atores envolvidos neste cenário, em atuação intersetorial e interdisciplinar articulada e devidamente coordenada. Deve ser papel do governo desenvolver políticas que estimulem, facilitem e apoiem a integração de fato de todos os atores/setores na universalização das ações transdisciplinares e intersetoriais reconhecidas atualmente como capazes de gerar resultados de curto, médio e longo prazos. Além disso, propiciem os recursos humanos e materiais necessários à sua implementação e à avaliação sistemática de seus resultados.
Estratégias em andamento
Adotada pela Assembleia Mundial da Saúde em 2004 e reconhecida novamente em uma declaração política de 2011 sobre doenças não transmissíveis (DNTs), a “Estratégia Global da OMS sobre Dieta, Atividade Física e Saúde” descreve as ações necessárias para apoiar dietas saudáveis e atividade física regular. A Estratégia apela a todas as partes interessadas para que tomem medidas a nível global, regional e local para melhorar as dietas e os padrões de atividade física a nível da população.
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável reconhece as DNTs como um grande desafio para o desenvolvimento sustentável. Como parte da Agenda, os Chefes de Estado e de Governo comprometeram-se a desenvolver respostas nacionais ambiciosas, até 2030, para reduzir em um terço a mortalidade prematura por DNTs por meio de prevenção e tratamento (meta 3.4 dos ODS).
O “Plano de ação global sobre atividade física 2018–2030: pessoas mais ativas para um mundo mais saudável” fornece ações políticas eficazes e viáveis para aumentar a atividade física globalmente. A OMS publicou um pacote técnico ACTIVE para auxiliar os países no planejamento e entrega de suas respostas. Novas diretrizes da OMS sobre atividade física, comportamento sedentário e sono em crianças menores de cinco anos foram lançadas em 2019.
No Brasil, o Ministério da Saúde lançou em agosto de 2021 a Estratégia Nacional de Prevenção e Atenção à Obesidade Infantil – Proteja e a Campanha Nacional de Prevenção à Obesidade Infantil, para o desenvolvimento de ações de combate ao problema e promoção de hábitos saudáveis.
Juntos podemos e devemos fazer a diferença. Há muito que podemos fazer, como visto acima e, além das mudanças alimentares, melhor acesso a alimentos saudáveis e acessíveis, abrir espaço para caminhadas, ciclismo e recreação seguras e, fundamental, ensinar aos nossos filhos hábitos saudáveis desde cedo.
Saiba mais:
– WHO. Obesity and overweight:
– Obesidade infantil afeta 3,1 milhões de crianças menores de 10 anos no Brasil:
Relatora:
Renata D Waksman
Coordenadora do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Foto: belchonock | depositphotos.com